González enfatiza que as polícias, que já foram utilizadas como instrumento político ao longo do tempo, acumularam autonomia e poder, mesmo em democracias. Essa autonomia tem se manifestado como uma barreira contra tentativas de reforma e controle de suas atividades. Ela também criticou as declarações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do secretário de segurança, Guilherme Derrite, sobre a operação. Ela ressaltou a politização imediata das mortes, que é preocupante e contradiz os princípios de uma polícia democrática.
Durante sua visita, González participou de atos de repúdio e reuniões com familiares, movimentos sociais e autoridades locais. Ela constatou relatos de abusos por parte da polícia, incluindo ameaças contra os familiares e o uso de força letal sem justificativa adequada.
Sobre o posicionamento do governador e do secretário de segurança, que defenderam a operação e negaram abusos, González ressaltou que essa politização das mortes viola os princípios de uma polícia democrática. Ela enfatiza que a lei não permite o uso da força letal com base em antecedentes criminais, e que tal justificativa enfraquece o controle externo civil sobre esses casos e a instituição policial como um todo.
A pesquisadora também destacou que a violência policial no Brasil não é um fenômeno isolado. Ela observa que a polícia da Bahia, por exemplo, é mais letal do que as 18 mil polícias dos Estados Unidos. Esse tipo de violência policial tem se manifestado em episódios recentes em outros estados brasileiros, como Bahia e Rio de Janeiro. González ressalta que há um certo apetite social e político pela violência policial nas Américas, e que é necessário um esforço conjunto para mudar essa realidade.
González argumenta que a estrutura da segurança no Brasil e em outros países da América Latina se mantém ao longo do tempo devido ao uso estratégico do poder político pela polícia. Ela enfatiza a falta de uma resposta coerente e estrutural por parte da esquerda, mesmo que parte de seus eleitores sejam vítimas dessa violência policial. Ela também destaca a importância de reduzir o poder estrutural da polícia e aumentar o controle externo através de medidas como câmeras de monitoramento e envolvimento do Ministério Público, do Legislativo e da sociedade.
Diante da escalada da violência policial em várias regiões do Brasil, é essencial dar espaço às vozes das mães que perderam seus filhos devido à violência do Estado. Como uma mãe afirmou, quando se perde um filho por qualquer outro motivo, é possível aceitar a perda, mas quando é pelo Estado, é impossível, porque você pagou pela morte do seu filho.
Yanilda González, professora de políticas públicas da Harvard Kennedy School e autora de “Polícia autoritária na América Latina” (Cambridge University Press, 2020), enfatiza a urgência de uma mudança para reduzir a violência policial e garantir um controle mais efetivo sobre as atividades policiais. A palavra-chave é reforma, e é necessária uma abordagem estrutural e coerente para combater essa problemática.