O relâmpago e a trovoada: crônica sobre a fugacidade da infância e a melancolia da vida

Ontem, durante uma simples ida à padaria com meus filhos, percebi algo que me deixou pensativo. Enquanto caminhávamos, notei que meus filhos, de dez e oito anos, estavam segurando a minha mão. Foi um gesto automático, rotineiro, mas que me fez refletir sobre o tempo que passa tão rápido. Em breve, eles não vão querer mais segurar a minha mão, vão se afastar de mim e até expressar vergonha da minha presença. Aquele momento, onde eles buscavam segurança e conforto nas minhas mãos, foi um lembrete de como a vida é efêmera e como o tempo voa.

Essa sensação de que a infância passa rapidamente foi reforçada quando presenciei uma jovem mãe no aeroporto, malabarizando suas responsabilidades com um bebê nos braços, uma mochila, uma pasta de trabalho e a mamadeira e chupeta entre os dedos. Lembrei das inúmeras vezes em que me disseram para aproveitar a infância deles, mesmo nos momentos mais desafiadores. Agora, a realidade bateu à minha porta, mostrando-me que aqueles conselhos faziam sentido.

A percepção de que a vida é feita de momentos únicos, fugazes e preciosos, é algo que escapa à nossa compreensão na maioria das vezes. O renomado crítico literário Davi Arrigucci Jr. analisa a genialidade do cronista Rubem Braga ao capturar a essência dos momentos efêmeros, sem cair em discursos simplistas ou melodramáticos. Braga consegue mostrar a grandiosidade da vida no instantâneo, mas também revela a tristeza da transitoriedade de tais momentos.

Conforme caminhava com meus filhos, tentava não apertar demasiado as suas mãos, tinha receio de que eles pudessem escapar. Nem mesmo vinte metros à frente, eu me vi confrontado com as típicas discussões infantis sobre o que preferiam comer. Naquele momento, a realidade mundana se impôs, mas não apagou o viver e significado da experiência de segurar suas mãozinhas.

Esses momentos cotidianos e efêmeros são o que realmente importa na vida, e percebê-los é o que nos faz humanos. O desafio está em apreciar a grandiosidade da vida no instantâneo, sem nos perdermos na tristeza da transitoriedade. Assim, caminhamos pela vida, segurando as mãos daqueles que amamos e tentando apreciar o significado desses momentos fugidios.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo