A campanha do Novembro Azul, voltada à conscientização sobre a importância do cuidado com a saúde dos homens e o diagnóstico precoce do câncer de próstata, tem reacendido o debate sobre a efetividade do rastreamento populacional para a doença. Enquanto o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) não recomendam o rastreamento sob a justificativa de que estudos científicos mostram que programas de rastreamento não têm grande impacto na redução da mortalidade, algumas sociedades médicas argumentam que esperar o homem manifestar sintomas pode ser arriscado, já que os tumores em estágio inicial geralmente não apresentam sinais claros.
A discussão ganhou destaque recentemente após a publicação de uma nota técnica conjunta do Ministério da Saúde e do Inca reafirmando a não recomendação do rastreamento, o que gerou reações de algumas sociedades médicas e especialistas. Além disso, um vídeo do canal Porta dos Fundos estrelado pelo ator Antônio Fagundes, que tratou de forma direta e bem-humorada a importância do exame de toque retal, viralizou e gerou discussões na internet.
Mesmo com a recomendação contra o rastreamento populacional, o Ministério da Saúde e o Inca sugerem que homens, especialmente a partir dos 45 anos, procurem um médico para uma avaliação individualizada e discussão sobre a realização ou não dos testes. “Estudos mostram que os programas de rastreamento universal tiveram pouco impacto na (queda da) mortalidade, isso ainda é objeto de pesquisa, não temos absoluta segurança (de que ele traz mais benefícios do que riscos), então não é recomendado que seja feito de forma indiscriminada, como uma política pública. Mas todo homem, especialmente a partir dos 45 anos, deve se preocupar com sua saúde e procurar um médico que vai orientá-lo sobre os riscos e benefícios dos exames”, afirmou Roberto de Almeida Gil, diretor-geral do Inca.
A Sociedade Brasileira de Urologia também recomenda que todos os pacientes a partir dos 50 anos procurem um urologista para discutir individualmente a melhor conduta frente aos riscos e benefícios dos testes. Para pacientes com histórico familiar do tumor ou homens negros, que têm maior risco de desenvolver a doença, esse acompanhamento deve ser iniciado aos 45 anos.
Apesar do posicionamento federal, alguns especialistas discordam e afirmam que o rastreamento deveria ser feito por todos os homens entre 50 e 70 anos. Eles destacam que, mesmo que estudos internacionais não sejam conclusivos, é preciso considerar o cenário socioeconômico e cultural do Brasil, além da resistência em relação ao exame de toque retal.
A controvérsia em torno do rastreamento do câncer de próstata continua gerando discussões entre especialistas e sociedades médicas, enquanto a população masculina é encorajada a buscar orientação médica e uma avaliação individualizada para determinar a melhor conduta em relação aos exames de rastreamento.