Caminhei cambaleante em direção ao quarto da criança, tentando acalmar os ânimos da pequena gritadeira. “Chiiiiii, chiiiiiii, mamãe está aqui, mamãe está aqui”, sussurrei baixinho, carregando o pequeno em meio à penumbra, na vã tentativa de não acordar a irmã mais velha que repousava na cama adjacente. Um esforço em vão, uma vez que no momento em que minha mão tocou a maçaneta, observei a cabecinha da outra filha se erguer do travesseiro, percebendo que seria deixada para trás, ela prontamente pediu para ser levada conosco para o outro cômodo.
A rotina de maternidade solo temporária nos últimos 15 dias tem sido extenuante, enquanto o pai das crianças se encontra em viagem a trabalho. E tal intensidade não é muito menor quando ambos estamos presentes, porém, ao menos, a equação casa + trabalho + crianças é dividida por dois.
Exaustão é a palavra que melhor descreve meus dias nos últimos cinco anos. Além do cansaço físico e mental, também há a ausência de atividades físicas, dores crônicas no pescoço e nas costas, descuido com a alimentação e uma queda na autoestima física e profissional. Um período de cinco anos marcado por gastos elevados com creche, fraldas, alimentação, vestuário e itens supérfluos indicados como indispensáveis, porém dos quais poderia facilmente ter prescindido.
Recentemente, uma pesquisa apontou que nove em cada dez mães no Brasil sofrem com o chamado “burnout parental”, uma condição de esgotamento provocada pelas pressões e sobrecargas da parentalidade. Mulheres indígenas, pardas, negras, com menor escolaridade, mães solo e mães atípicas são os grupos que mais sofrem com essa realidade.
A falta de apoio é um denominador comum entre todas essas mães exauridas. Em uma sociedade cada vez mais individualista e acelerada, a ideia de uma “vila” que apoia na criação dos filhos se perdeu. Aqueles que possuem recursos financeiros contratam babás e folguistas, enquanto quem não tem busca sobreviver à conta que simplesmente não fecha.
Em uma entrevista recente com a atriz Paula Burlamaqui, ela expressou sua preocupação em envelhecer e em quem cuidará dela em uma eventual condição de demência ou incapacidade. A reflexão que ressoa é: quem cuida de nós no presente? Se negligenciamos nosso cuidado em prol de outros, o que será de nós no futuro?
Essas reflexões nos levam a questionar quem são os verdadeiros responsáveis por zelar por nossa saúde mental e física, especialmente diante da pressão para reproduzir e da realidade do abandono aos idosos em nossa sociedade. O cuidado com os outros não deve se sobrepor ao cuidado próprio, afinal, nossa saúde presente reflete diretamente em nosso bem-estar futuro.