Livro revela a participação de escravizados na redação do Novo Testamento: “Os escritores fantasmas de Deus” por Candida Moss, professora de teologia.

No campo religioso, a tradição muitas vezes obscurece a realidade por trás da autoria dos textos sagrados. Ao longo dos séculos, nos acostumamos a atribuir os evangelhos canônicos a indivíduos específicos como Marcos, Lucas, Mateus e João, e as cartas a Paulo, considerados divinamente inspirados e autores únicos. No entanto, um livro recente escrito pela professora de teologia Candida Moss da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, intitulado “God’s ghostwriters” ou “Os escritores fantasmas de Deus”, traz à tona reflexões interessantes que desafiam essa visão tradicional.

Moss argumenta que os textos que compõem o Novo Testamento foram escritos em um processo de colaboração, muitas vezes com a participação de pessoas escravizadas. Essa perspectiva lança luz sobre a complexidade por trás da redação dos textos bíblicos e questiona a ideia de autoria individual e divina. O livro levanta a possibilidade de que os evangelhos e as cartas tenham sido resultado de um trabalho conjunto entre líderes religiosos e colaboradores menos reconhecidos, como escravos.

Na sociedade antiga, era comum que os escritores ditassem seus textos a secretários ou escribas especializados, muitos dos quais eram escravos. Esses colaboradores desempenhavam um papel fundamental na redação, selecionando palavras, intervindo na argumentação e até mesmo na publicação das obras. A autora ressalta que a contribuição desses escritores invisíveis foi essencial para a disseminação do cristianismo no mundo antigo.

Embora as evidências sobre o trabalho criativo dos escravizados na redação dos textos sejam escassas, Moss argumenta que é crucial reconhecer a importância desses colaboradores na formação da tradição religiosa. Seu livro não busca questionar a autoridade dos textos do Novo Testamento, mas sim promover uma reparação histórica das pessoas humildes que contribuíram para sua criação e difusão. Dessa forma, Moss nos convida a refletir sobre a complexidade da autoria dos textos sagrados e a dar voz aos escritores que, por muito tempo, permaneceram no anonimato.

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