O movimento psicodélico enfrenta um inverno gelado, sem nenhum sinal de calor no horizonte. A crise global no financiamento de pesquisas psicodélicas tem dificultado a sobrevivência deste segmento. No entanto, após assistir ao filme “A Sociedade da Neve”, recomendado pelo psiquiatra Luís Fernando Tófoli, foi possível estabelecer um paralelo entre a trama abordada no filme e a atual situação dos psicodélicos.
A película retrata o acidente aéreo que vitimou 45 passageiros na Cordilheira dos Andes em 1973, com apenas 16 sobreviventes após 72 dias no gelo, tendo que recorrer à carne humana para manter-se vivo. Este episódio serviu como inspiração para refletir sobre o que o movimento psicodélico precisa fazer para sobreviver.
O psicólogo Rick Doblin, da Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (Maps), expressou sua preocupação com o atual cenário, destacando a importância do capital para a manutenção das pesquisas psicodélicas. Doblin ressaltou que a Maps nunca recebeu financiamento governamental, dependendo apenas de doações filantrópicas para continuar suas pesquisas.
No entanto, Doblin revelou sua admiração pela entrada de US$ 100 milhões aplicados por investidores de risco no braço empresarial da Maps. Esse financiamento é fundamental para viabilizar o tratamento com psicoterapia assistida por MDMA, utilizada para o transtorno de estresse pós-traumático.
Christian Angermayer, investidor em startups psicodélicas, também manifestou sua visão otimista sobre o futuro dos psicodélicos. Ele acredita que o mercado de biotecnologia voltará com força, apesar da queda de 89,9% nas ações da empresa Atai. Angermayer enfatizou a importância de investir em novos tratamentos potencialmente transformadores para os pacientes.
Enquanto alguns defendem a necessidade de capital para a sobrevivência dos psicodélicos, outros, como os ex-hippies da Maps, buscam soluções baseadas em experiências comunitárias, mantendo o foco na pesquisa humanitária e na terapia de grupo em áreas com alta prevalência de traumas.
Diante desse cenário, é imperativo reconhecer o sofrimento presente e o conhecimento tradicional como imperativos de solidariedade, independentemente das oportunidades de mercado. Resta saber se a fé no poder do capital será suficiente para garantir a sobrevivência dos psicodélicos ou se novas abordagens baseadas na solidariedade e na experiência comunitária ganharão espaço no inverno psicobiomédico. Em meio a esse cenário, é importante lembrar que os psicodélicos ainda são terapias experimentais e não devem ser objeto de automedicação. É fundamental buscar orientação médica antes de se aventurar nessa área.
