Começando pela relação com o mercado, analisamos a Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Ao contrário de outros clubes que aderiram a esse modelo, o Fortaleza Esporte Clube (FEC) não se entregou completamente ao mercado. O clube utilizará a SAF para obter força e aumentar sua reputação no mercado, estabelecendo novos paradigmas que permitem que o clube dialogue com o mercado sem se render à lógica predatória das SAFs. O clube demonstra eficiência em suas finanças, com poucas dívidas e capacidade de investimento, mesmo tendo um orçamento menor em comparação com muitos outros clubes do país. Isso mostra a eficiência na gestão de recursos. Assim como alguns estados brasileiros, os clubes são afetados por problemas como inadimplemento, falências, salários atrasados e uma administração ineficiente. O bom gerenciamento do clube aumenta sua credibilidade e capacidade de endividamento, adquirindo moral no mercado da bola e tornando-se apto a buscar voos mais altos. A regra é clara: quanto mais se demonstra capacidade de pagamento, mais crédito se obtém.
A adesão à SAF, da forma como foi implementada, representa uma inovação na gestão e nos negócios do Fortaleza. Os direitos dos jogadores, os contratos comerciais, a bilheteria e outros ativos se somam à reputação do clube no mercado. Vale ressaltar também o trabalho do jornalista-boleiro Irlan Simões, que pode fornecer mais detalhes sobre esse processo inovador. O clube apresenta uma máquina enxuta, resultados positivos e eficiência nos gastos, o que o torna atraente para o mercado do futebol. Essa mesma eficiência na gestão poderia ser aplicada pelos estados brasileiros, que muitas vezes sofrem com problemas financeiros e falta de planejamento. Ao aumentar os espaços de decisão, qualificar a participação da sociedade e utilizar critérios claros nas decisões, é possível evitar que políticos e gestores atuem contra os interesses da população quando assumem cargos públicos.
Outro ponto importante é a relação com o mercado. No caso do Fortaleza, o mercado não é visto como um fim em si mesmo, mas sim como um meio para alcançar seus objetivos. O clube demonstra a verdadeira relação entre mercado e Estado, uma relação cheia de mal-entendidos. Enquanto alguns acusam o Estado de ser ineficiente, apesar dos benefícios que oferece ao setor privado, outros demonizam o setor privado. A SAF do Fortaleza busca integrar o melhor de ambos. Se essa abordagem estivesse sendo adotada por clubes do sul e do sudeste do país, certamente haveria mais atenção e esses exemplos estariam sendo amplamente discutidos. É difícil prever o sucesso dessa abordagem, assim como no mundo econômico, o futebol também passa por momentos turbulentos e incertos.
No momento, o Fortaleza avança, inspira e dá exemplo. Como bem mencionado por Milly Lacombe, apenas o Palmeiras foi capaz de seguir uma trajetória semelhante de recuperação e posicionamento. Após uma longa jornada de sacrifícios, sofrimentos, lutas e glórias, o Fortaleza sabe que o jogo de hoje é difícil, disputado e decisivo. Como torcedor apaixonado tanto pelo futebol quanto pela política, entendo que esse legado não está sujeito às dificuldades do momento ou aos desafios futuros. Existe um projeto em andamento, que visa aprender com os erros do passado, viver o presente com dedicação, seriedade e metas ambiciosas. Esse projeto se tornou uma cultura corporativa, onde o clube se assemelha a uma organização bem administrada, na qual a sociedade sente que o Estado realmente faz parte de suas vidas.
O Fortaleza e sua adesão à SAF mostram uma rota alternativa. Um recado que ecoa do Nordeste para o Brasil e para o mundo: a vida exige paixão, razão e criatividade em doses iguais. E isso o Fortaleza tem de sobra.