Segundo a filósofa, o clitóris representa uma pedra no sapato do imaginário sexual, causando desconforto e ferindo o “calcanhar” da consciência. Enquanto livros de anatomia reprodutiva definem o clitóris como um corpo erétil, Malabou coloca em perspectiva a importância e o significado desse órgão para o prazer feminino.
Para Malabou, a discussão sobre o clitóris vai muito além da biologia, adentrando o campo político e do poder. A comparação entre o clitóris, o pênis e a vagina revela a subalternidade atribuída ao órgão feminino, que historicamente foi considerado menos importante e relevante que os órgãos masculinos.
A autora questiona o esquecimento histórico do clitóris no Ocidente, argumentando que a misoginia surge da percepção do prazer feminino como algo perigoso e autônomo. Após pressão de movimentos feministas, a ciência finalmente começou a estudar o clitóris de forma mais aprofundada, mas ainda há lacunas a serem preenchidas, sobretudo no que diz respeito aos efeitos na psique feminina.
Malabou levanta a questão sobre a importância do orgasmo feminino e defende a autonomia do prazer da mulher como algo a ser explorado e valorizado. A filósofa desafia a ideia de que o prazer feminino deve ser associado exclusivamente à reprodução, argumentando que negar o prazer em si é uma forma de repressão.
Em suma, a obra de Catherine Malabou lança luz sobre um tema tabu e convida a sociedade a refletir sobre sua relação com o prazer feminino e o papel do clitóris nesse contexto. Ao desmitificar e valorizar esse órgão, a autora contribui para uma maior compreensão da sexualidade feminina e para a promoção da igualdade de gênero.