A preocupação com os transtornos alimentares ganhou destaque em uma audiência pública realizada pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) nesta quinta-feira (5). A escassez de informações sobre a assistência disponível, a falta de unidades especializadas e de profissionais capacitados são obstáculos no combate a esses distúrbios que afetam, principalmente, a parcela infantojuvenil da população.
A senadora Damares Alves, autora do requerimento para a audiência, destacou a angústia das famílias diante do aumento dos casos de transtornos alimentares. Ela ressaltou a influência negativa das redes sociais, que muitas vezes propagam informações erradas e são disseminadas por pseudoespecialistas e influencers, afetando principalmente crianças e adolescentes.
No Brasil, existem apenas 15 centros públicos destinados ao tratamento de transtornos alimentares, sendo que somente uma enfermaria especializada está disponível em toda a América Latina, localizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). O psiquiatra Táki Athanássios Cordás, representante do programa de tratamento de transtornos alimentares do HCFMUSP, expressou sua indignação com a falta de mais centros de excelência para atender essas pessoas.
Os transtornos alimentares, como anorexia, bulimia e compulsão alimentar, afetam cerca de 5% da população brasileira, totalizando aproximadamente 11 milhões de pessoas. Cordás esclareceu que a obesidade não é um transtorno alimentar, mas ressaltou que cerca de 20% das pessoas obesas apresentam transtornos psiquiátricos, como a compulsão alimentar.
O tratamento para os transtornos alimentares é caro e exige uma equipe multidisciplinar qualificada. Priscilla Gil, representante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), enfatizou as dificuldades encontradas tanto na rede privada como no Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento desses distúrbios.
A educação sobre transtornos alimentares também foi abordada durante a audiência. Os especialistas ressaltaram a importância de incluir o tema em diferentes etapas educacionais, mas alertaram para a necessidade de abordagens cuidadosas para não induzir transtornos nos estudantes.
Além disso, a influência das redes sociais na propagação de padrões de beleza irreais e dietas extremas foi destacada como um dos desafios no combate aos transtornos alimentares. A senadora Damares se comprometeu a manter o tema em pauta e propor a criação de um grupo de trabalho para dar continuidade à discussão.
Ainda há muito a ser feito para garantir o acesso ao tratamento adequado e a prevenção dos transtornos alimentares no Brasil. A conscientização, a educação e a ampliação da rede de atendimento são passos essenciais nessa jornada.