O diagnóstico da síndrome congênita associada à infecção pelo zika se limita atualmente à medição do tamanho do cérebro por meio de ultrassonografia ou tomografia, ou então às medidas da circunferência do crânio após o nascimento. Esses métodos, no entanto, deixam a desejar em termos de precisão e não oferecem muitas possibilidades de reverter o quadro. Portanto, a descoberta do vínculo entre a atividade da enzima Ndel1 e o tamanho do cérebro traz muitas esperanças para o diagnóstico precoce da microcefalia.
A pesquisa, realizada em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também revelou que o tratamento com o interferon-beta, um fármaco utilizado para tratar esclerose múltipla, teve efeitos positivos no desenvolvimento neuronal dos camundongos infectados com o zika. Além disso, o medicamento foi capaz de restabelecer a atividade da enzima Ndel1 a níveis semelhantes aos dos roedores não infectados.
Para investigar a atividade da enzima em animais infectados pelo vírus zika, os pesquisadores desenvolveram um modelo experimental. Eles observaram que a infecção está associada a uma redução na atividade da enzima no cérebro dos animais. Além disso, eles também puderam variar as condições do experimento, como a carga viral e os diferentes estágios de desenvolvimento do embrião, o que sugere que a atividade da enzima possa ter um excelente poder diagnóstico.
A pesquisadora Mirian Hayashi, coordenadora do estudo, ressalta que a infecção pelo vírus zika durante a gestação pode causar uma série de malformações na prole, incluindo a microcefalia. No entanto, é importante destacar que a microcefalia e outros danos cerebrais durante a gravidez podem ser causados por diferentes fatores, como infecções por toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes simples.
A enzima Ndel1 tem sido amplamente estudada por sua importância no desenvolvimento neurológico e em doenças como esquizofrenia e depressão. Ela está associada à formação de complexos no neurônio e aos processos de proliferação, diferenciação e migração dos neurônios durante a formação do cérebro.
Essa descoberta pode trazer avanços significativos para o diagnóstico precoce da microcefalia causada pelo vírus zika. Espera-se que futuras pesquisas explorem ainda mais o papel da enzima Ndel1 e do interferon-beta no combate aos efeitos devastadores dessa infecção durante a gestação.