Estudo revela que metade dos abordados por suspeita de tráfico de drogas no Brasil é negra, aponta Ipea

Um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que metade das pessoas abordadas por policiais com base em atitudes suspeitas de tráfico de drogas no Brasil são negras, enquanto apenas 20% são brancas. A pesquisa analisou 28,8 mil ações criminais por tráfico de drogas com decisões terminativas durante o primeiro semestre de 2019, totalizando mais de 41 mil réus indiciados, denunciados ou sentenciados.

De acordo com o estudo, em 46% dos casos analisados o suspeito é negro, enquanto em apenas 21% o suspeito é branco. Além disso, a cor não foi registrada em 30% dos casos, sendo considerados negros a soma de pretos e pardos. Já indígenas e amarelos somaram sempre menos de 1% dos casos.

Os locais de abordagem mais frequentes foram as vias públicas e as residências dos suspeitos. Em ambos os casos, a proporção de negros é maior que a de brancos: 53% a 20% nas vias públicas e 45% a 21% nas residências. Além disso, os negros também foram maioria nas denúncias anônimas, representando 46% dos casos, enquanto os brancos representaram apenas 22%.

“Os dados reforçam que existe uma seletividade das pessoas que ingressam no sistema judiciário”, afirmou Natalia Amorim Maciel, autora do estudo. Segundo ela, é preciso considerar que o tráfico de drogas é o crime que mais prende no Brasil e que existe um racismo estrutural que contamina as instituições brasileiras.

O estudo também apontou que, em casos de abordagens a domicílio sem uma autorização judicial, 46% dos alvos são negros, contra 21% que são brancos. Quando a ação é feita com mandato judicial, os números se aproximam, com 35% de negros e 20% de brancos.

Além disso, a nota técnica do Ipea destacou que apenas 2% dos réus frequentaram pelo menos um ano de ensino superior, enquanto 67% deles não concluíram o ciclo da educação básica. Isso indica que o suspeito padrão é um jovem negro com pouco acesso à educação.

“A realidade que temos hoje é que as apreensões são, em regra, de quantidades baixas de droga, feitas por meio de incursão a domicílios sem mandado judicial”, explicou a antropóloga Yasmin Rodrigues, pesquisadora do núcleo de Justiça Racial e Direito da Fundação Getulio Vargas.

Esses dados levantam questionamentos sobre a seletividade das abordagens policiais no país e evidenciam a importância de se combater o racismo estrutural que ainda permeia as instituições brasileiras. É necessário promover a igualdade racial e garantir que todos os cidadãos sejam tratados de forma justa e equânime perante a lei.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo