Uma pesquisa de doutorado desenvolvida com resíduos de inajá e de açaí, resultantes da prensagem da polpa das frutas para a extração de óleo, revelou que eles são ricos em compostos bioativos com atividade antioxidante e anti-inflamatória. Os resultados do estudo foram publicados nas revistas científicas Food Research International e Foods e são considerados inéditos, visto que esses resíduos nunca haviam sido investigados cientificamente.
De acordo com a primeira autora dos artigos, Anna Paula de Souza Silva, cientista de alimentos e bolsista de doutorado da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), as atividades agroindustriais geram uma grande quantidade de resíduos, muitas vezes em volumes superiores ao produto que é comercializado. Por isso, surgiu a oportunidade de estudar os resíduos de açaí e inajá, que até então não tinham uma destinação específica.
A pesquisa envolveu a caracterização dos resíduos de açaí e inajá e o desenvolvimento de métodos de extração para obtenção de extratos com substâncias antioxidantes. Foram identificados diversos compostos bioativos nos extratos, como procianidinas no inajá e antocianinas, flavonas e flavonoides no açaí. Além disso, os extratos demonstraram atividades antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana.
Os pesquisadores também realizaram análises relacionadas ao sequestro de espécies reativas de oxigênio, que são radicais livres e podem causar danos à saúde humana. Com teores bastante baixos dos extratos, foi possível reduzir a concentração dessas espécies em 50%, indicando a potente ação antioxidante do material.
Além disso, os extratos apresentaram atividade anti-inflamatória quando testados em células do sistema imune de camundongos. Eles também apresentaram uma possível ação antimicrobiana contra cepas de bactérias e leveduras relacionadas a doenças alimentares e enfermidades hospitalares.
A pesquisa contribui com a economia circular, uma vez que os resíduos de açaí e inajá podem ser reaproveitados na indústria de alimentos, farmacêutica e cosmética. Empresas já demonstraram interesse nesses resíduos, principalmente aquelas que buscam evitar o uso de produtos de origem animal em seus produtos.
A próxima etapa da pesquisa envolverá estudos sobre o transporte celular dos compostos bioativos da fração intestinal em modelo de células do intestino humano, para verificar se eles são absorvidos e se as atividades biológicas são preservadas. Além disso, serão desenvolvidos protótipos de alimentos enriquecidos com os extratos estudados.
Os resultados dessa pesquisa abrem portas para o aproveitamento de resíduos de alimentos na produção de substâncias com potencial benefício à saúde. Além disso, contribuem para a economia circular e a sustentabilidade na indústria agroalimentar.