Estudantes da USP realizam ocupação em apoio à greve por falta de professores em meio a clima tenso de ameaças e embates

A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), conhecida como Poli, foi palco de uma ocupação por estudantes na tarde desta quarta-feira (27). O objetivo da ocupação era fixar cartazes em apoio à greve que se instalou na instituição devido à falta de professores. Porém, a tarefa foi dificultada por uma forte ventania acompanhada de chuva de granizo. Apesar das condições adversas, os estudantes conseguiram fixar os cartazes e partiram.

Pouco tempo depois, uma dupla de opositores tentou arrancar os cartazes, mas foram interceptados por um segurança. Ambos correram, porém o mais alto escorregou e continuou mancando. Enquanto isso, o diretor da escola, Reinaldo Giudici, estava reunido com os manifestantes em uma sala no prédio. O debate foi longo e as reivindicações dos estudantes, principalmente a rápida contratação de novos docentes, foram repetidas várias vezes. No entanto, não houve acordo.

Durante o dia, as redes sociais foram palco de uma intensa troca de ameaças entre os grevistas e seus opositores. Grupos no WhatsApp ameaçavam fisicamente uns aos outros, enquanto os grevistas prometiam retaliação. Esse embate reflete a tensão que se instaurou desde a votação pela adesão ao boicote na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), que culminou com a adesão da Poli, mesmo sendo conhecida por seu histórico antiparalisação.

O clima de tensão também afetou as aulas na universidade. O professor Cláudio Geraldo Schön, por exemplo, tentou aplicar uma prova durante a semana, mas declarou que consideraria o exame concluído caso houvesse bloqueio ao laboratório. Essa postura dividiu opiniões e gerou xingamentos contra o professor. No final, ele decidiu não comparecer para aplicar a prova. Outros docentes anunciaram aulas online como forma de furar o boicote, mas acabaram tendo suas salas virtuais invadidas.

Na universidade, há um clima de medo e preocupação. Alunos como Luiz Souza, do curso de engenharia elétrica, temem uma guerra civil dentro da instituição. Ele relata a existência de grupos extremistas e bem articulados dos dois lados do embate. Além disso, funcionários da limpeza afirmam que muitos estão apoiando o movimento, mas têm medo de se manifestar individualmente por medo de represálias.

No epicentro da greve, a situação é peculiar. Alunos de artes cênicas, por exemplo, têm resistido em aderir ao movimento estudantil. Além disso, o curso de Letras é onde há maior adesão e articulação ao movimento, principalmente nos cursos de coreano e japonês, que possuem um déficit de docentes na universidade.

Porém, há divergências quanto à forma de protesto dos alunos. Docentes como Mamede Mustafa Jarouche, de árabe, e o diretor da unidade, Paulo Martins, criticam os métodos utilizados pelos estudantes. Martins inclusive chegou a afirmar, em entrevista à Folha, que o movimento estudantil age como a direita bolsonarista.

No entanto, estudantes como Mandi Coelho, presidente do Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários Oswald de Andrade, afirmam que não há registro de violência por parte dos grevistas e pensam que há uma tentativa de descredibilizar as pautas da greve através de ataques pessoais.

Na manhã desta quinta-feira (28), uma reunião entre os representantes dos diretórios acadêmicos e a reitoria da USP terminou sem acordo. A greve continua por tempo indeterminado.

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