Escavação em São Paulo pode revelar pistas sobre expulsão de descendentes de quilombolas pela urbanização

A escavação para construção da estação da linha-6 laranja do metrô de São Paulo revelou vestígios históricos que podem trazer pistas sobre a expulsão dos descendentes de pessoas escravizadas que possivelmente ocuparam aquele território antes da expansão da cidade.

Essa descoberta tem preocupado os técnicos do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que alertaram para a conservação desses vestígios históricos. Segundo um relatório de vistoria do órgão federal, a maneira como esses achados estão sendo conservados, desperta preocupação na comunidade local, que tenta evitar o apagamento da memória da população preta do Bixiga.

A escavação, que está localizada nos arredores da praça 14 Bis, no distrito Bela Vista, revelou itens como peças de vestuário e utensílios comuns aos rituais das religiões de matriz africana. Além disso, duas grandes estruturas de tijolinhos, recentemente encontradas nas escavações, podem dizer mais sobre a real localização do Quilombo Saracura e como a urbanização pode ter forçado a saída dos descendentes dos quilombolas.

Contudo, apesar das evidências encontradas, o historiador e geógrafo Danilo Nunes, superintendente do Iphan no estado de São Paulo, pondera que os indícios ainda não comprovam a existência de um quilombo. Ele ressalta que obras públicas de infraestrutura estão regularmente associadas à expulsão de populações, mas que é necessária uma avaliação mais aprofundada.

A forma como os achados estão sendo conservados tem gerado tensões entre a concessionária responsável pela obra e a comunidade local. Relatórios apontam problemas em relação à preservação das estruturas por parte da Construtora Acciona, que realiza a escavação da estação. As estruturas foram encontradas parcialmente desenterradas e cobertas de areia e por uma manta geotêxtil, o que não foi autorizado.

A consultoria A Lasca, contratada pela concessionária para trabalhar no sítio, argumenta que todas as medidas necessárias para garantir a integridade do patrimônio arqueológico foram tomadas. No entanto, a comunidade local, representada pelo movimento Mobiliza Saracura/Vai-Vai, cobra mais transparência e inclusão no processo, a fim de diminuir as tensões.

Apesar disso, o Iphan afirma ter estabelecido novos procedimentos desde a fiscalização e que avançou no diálogo com a comunidade, justamente pela formação de uma comissão com moradores da vizinhança. O superintendente Nunes concorda que o trabalho arqueológico é naturalmente lento e argumenta que ele ocorre no ritmo esperado.

Para a Linha Uni, responsável pela obra, o compromisso é assegurar que as atividades de construção sejam realizadas de forma responsável e em estrita conformidade com as regulamentações do Iphan. No entanto, a polêmica ainda persiste em relação à conservação dos vestígios históricos encontrados durante a escavação.

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