Em favelas, profissionais e moradores fornecem cuidados paliativos essenciais para os doentes, demonstrando comprometimento com a saúde pública.

Uma rede de voluntários formada por profissionais da saúde e moradores de favelas tem realizado um trabalho significativo ao levar cuidados paliativos a doentes no fim da vida que vivem em completo abandono social. Essas comunidades compassivas estão presentes em favelas como Rocinha, Vidigal, Cabana do Pai Tomás e na periferia de Goiânia. O conceito fundamental dessas comunidades é a ideia de que a própria sociedade pode ser o motor de mudança, e a compaixão é um elemento essencial nesse processo.

O projeto conta com doações e parcerias com a rede pública de saúde. Geralmente, os pacientes atendidos são aqueles que possuem doenças graves e incuráveis, como câncer avançado e Alzheimer. Devido à piora de sua condição clínica e à dificuldade de locomoção, uma vez que vivem em áreas de difícil acesso, muitos desses pacientes deixam de frequentar os serviços de saúde e acabam não recebendo assistência domiciliar adequada.

Várias histórias como as de Elisângela, Balão e Toninha destacam a urgência da atuação desses voluntários. Elisângela faleceu devido a complicações da Aids, Balão, um alcoólatra com tuberculose resistente, e Toninha, uma mulher de 62 anos com câncer de pulmão avançado. A incapacidade de receber os exames e tratamentos médicos necessários exacerbou seu sofrimento e levou a resultados trágicos.

Uma das voluntárias mais antigas da Rocinha, Maria Edileusa Braga Freire, relembra a experiência de cuidar de doentes graves e acamados, muitos deles vivendo sozinhos em condições insalubres. Ela conta sobre o caso de um homem com um tumor exposto no pescoço que foi encontrado cercado por ratos e baratas. Embora não tenha sobrevivido por muito tempo, pelo menos teve uma morte digna após ser retirado do local insalubre e levado ao hospital.

Em 2013, o enfermeiro Alexandre Silva se juntou às voluntárias da Rocinha e buscou parcerias com outros profissionais de saúde para oferecer uma assistência mais abrangente. Essa iniciativa resultou na criação da primeira comunidade compassiva do país em 2018. O objetivo do projeto não é substituir o poder público, mas sim complementá-lo e pressioná-lo a melhorar seus serviços. Pacientes em cuidados paliativos não têm tempo para esperar, por isso é necessário agir rapidamente para minimizar seu sofrimento e o de suas famílias.

Os profissionais de saúde voluntários, como enfermeiros, médicos, psicólogos, fisioterapeutas e assistentes sociais, realizam visitas mensais aos pacientes nas favelas e também oferecem suporte virtual por telefone. Atualmente, 30 pessoas no fim de vida estão sendo acompanhadas na Rocinha e um total de 140 já receberam os cuidados paliativos oferecidos pelo projeto.

Além dos cuidados paliativos, o projeto também se preocupa com pacientes que enfrentam situações sociais ameaçadoras à vida, mesmo que não estejam no fim da vida. Em um caso, um casal de idosos que enfrenta o acúmulo de objetos, o diabetes e a hipertensão vive em um barraco sem água encanada em um terreno instável. Para chegar à unidade de saúde mais próxima, eles precisariam caminhar 3 km por vielas acidentadas. No entanto, uma equipe de saúde da unidade básica foi destacada para realizar um acompanhamento domiciliar.

As comunidades compassivas são integradas a cursos universitários na área da saúde, como a da Cabana do Pai Tomás, que recebe alunos da UFMG, e a de Goiânia, que foi criada em agosto do ano passado em parceria com a PUC de Goiás.

Os resultados desse projeto têm sido tão positivos que outras regiões do país já estão replicando a iniciativa. Érika Lara, médica de família e comunidade e coordenadora da Goiânia Compassiva, destaca a importância de trabalhar em conjunto com a rede de saúde existente. O SUS não consegue atender todas as necessidades de saúde dessa população vulnerável, por isso é necessário agir rapidamente para minimizar o sofrimento dos doentes e de suas famílias.

O projeto também aceita doações financeiras e materiais de todo o país, que são utilizadas para atender demandas específicas dos pacientes, como medicamentos, fraldas geriátricas, camas hospitalares, curativos, cestas básicas e leite em pó.

Se você deseja se tornar voluntário nesse projeto e fazer a diferença na vida dessas pessoas, acesse o site da iniciativa ou siga a página @comunidade_compassiva no Instagram.

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