Curiosamente, percebo que, devido a essa dor no dedão, não consigo mais abrir o iogurte preferido da minha filha sem soltar alguns palavrões. Ela ficou curiosa e me perguntou o que significavam as palavras “taqueuparalho” e “cazzanculo”. Felizmente, tenho uma habilidade inventiva para palavras de baixo calão, então pude disfarçar esses termos como vulgares e desconsiderá-los como palavras reais.
Entretanto, é importante ressaltar que, mesmo com a dor no dedão, considero surreal buscar um médico para tratar desse problema, tendo em vista a existência de uma guerra em curso. Uma guerra sobre a qual nunca escreveria, mas estranhamente acabei escrevendo. Mesmo sem ter lido nenhum livro de quase 500 páginas sobre o assunto, um dia me arrisquei e compartilhei um pensamento sobre o conflito no meu Instagram. Provavelmente, deveria estar fazendo uma publicidade sobre meias ao invés disso.
Após essa publicação, percebi que cometi diversos erros em cada parágrafo e minha vida foi tomada por uma série de aulas que surgiram em todos os meus canais sociais e digitais. Essa demonstração de afeto professoral me fez compreender que nem sempre devemos opinar sobre assuntos que desconhecemos. Em outras palavras, nunca devemos opinar sobre aquilo que não sabemos.
Neste ano, estou ocupada buscando 58 possibilidades de sucesso e maneiras de ganhar dinheiro, mas sempre acabo encontrando uma 59ª opção, porque as anteriores não deram resultado. Além disso, tento fingir que não sou apenas uma figura virtual na internet, mas basta observar minha falsa alegria nas redes sociais para perceber que sou uma completa imbecil. Por todas essas razões, não li todos os bons textos sobre o Oriente Médio. Na verdade, acho que nem li três. Se o artigo estiver em inglês, sequer tento ler, pois travo em algumas palavras e desisto da leitura. Prefiro assistir às pegadinhas do Edu Primitivo no Instagram e nunca mais voltar para um artigo do New York Times. Mas por que insistimos em opinar sobre o que desconhecemos?
Seguindo um repórter que postava vídeos indizíveis, senti a necessidade de escrever sobre o que estava vendo, caso contrário, ficaria incapaz de sair da cama. No entanto, optei por parar de seguir esse perfil. É melhor ser uma pessoa que não sabe opinar do que insultar o mundo com minha ignorância. Parei de ver as imagens porque precisava ir ao pilates. Naquele dia em que vi mais uma imagem terrível da guerra, cancelei minha aula particular de pilates, pois não conseguia encontrar prazer ou cuidado pessoal diante de tamanha atrocidade. Contudo, o professor se recusou a devolver o valor pago pelo cancelamento alegando que “estar horrorizado com as notícias” não se enquadra como motivo de justificativa médica. Além de sofrer com a guerra, também perdi 150 reais.
Parece que precisava escrever porque é o que faço quando não suporto a realidade. Porém, percebi que ao decidir não mais ver monstrosidade nem discutir assuntos que não compreendo, também decretava o fim do período em que concordei comigo mesma em não buscar tratamento para a dor no meu dedão. Afinal, a vida não pode parar, e eu não devo me diminuir ou me rebaixar por isso. Hoje, finalmente fui ao médico e ele diagnosticou meu caso como “WhatsAppite”, recomendando que eu não leia notícias pelo celular e volte a fazer pilates.