A relação entre economia e voto é um assunto clássico na pesquisa empírica em ciência política. O consenso até agora era que a economia era o fator mais importante na escolha dos eleitores. No entanto, essa questão é complexa, pois não se trata apenas da economia real, mas também da percepção dos eleitores, que muitas vezes é influenciada por viés partidário. A avaliação da economia por eleitores favoráveis ao governo e da oposição pode variar em até 40%. Além disso, os eleitores muitas vezes não conseguem separar o impacto das políticas econômicas de outros fatores externos.
Além das respostas em pesquisas de opinião, a economia real também afeta o voto de forma indireta, pois produz sentimentos de mudança ou continuidade. No entanto, esse efeito é defasado e os eleitores muitas vezes têm memória curta, reagindo mais ao desempenho econômico recente do que ao desempenho do governo como um todo.
A escolha eleitoral também é influenciada por outros fatores, além da economia. A disputa política envolve diferentes narrativas e propostas. Na Argentina, a eleição foi marcada pela disputa entre autoritarismo e continuidade. A arquitetura da escolha também importa, pois a proposta de mudança estava dividida, enquanto a continuidade estava unificada. O resultado foi a derrota do peronismo, apesar da vitória de Massa.
A disputa de narrativas também influencia as eleições, como foi visto na Argentina e na Polônia. Os candidatos Milei e o partido PiS foram retratados como ameaças à democracia, e essa narrativa parece ter funcionado. No entanto, a demanda por líderes autoritários pode ser resultado da crise econômica, o que é uma questão controversa. Evidências empíricas sugerem que o apoio à democracia não é afetado pelo desempenho econômico, mas sim pela satisfação com o funcionamento da democracia.
Estudos mostram que outros fatores, como criminalidade violenta e corrupção, também influenciam o apoio à democracia. A qualidade dos serviços de saúde, no entanto, não foi considerada significativa. Esses achados não são surpreendentes para os brasileiros, que têm lidado com altos níveis de corrupção e criminalidade violenta.
Em resumo, as eleições na Argentina e na Polônia levaram analistas a questionarem a importância do voto econômico. A relação entre economia e voto é complexa e influenciada por fatores externos, como a percepção dos eleitores. Além disso, a escolha eleitoral é influenciada por disputas de narrativas e outros fatores, como criminalidade e corrupção. A demanda por líderes autoritários pode ser resultado da insatisfação com o funcionamento da democracia, e não apenas da crise econômica. A influência desses fatores nas eleições é fundamental para entender as decisões dos eleitores.