Roziclea Mota Tavares, uma professora de educação infantil de 52 anos, é uma dessas mulheres que enfrenta esse desafio diariamente. Além de suas tarefas domésticas e de cuidar de sua filha adolescente, ela também é responsável pelo cuidado de sua sogra de 102 anos, que é acamada. Durante o dia, a sogra fica sob os cuidados de uma cuidadora, mas assim que Tavares chega do trabalho, assume a responsabilidade.
Essa realidade não é exclusiva do Brasil, como mostrou uma pesquisa do centro Pew dos Estados Unidos, que revelou que metade dos americanos de 40 anos estão nessa situação. Porém, no Brasil, a situação ganha contornos diferentes devido à dinâmica demográfica do país. Segundo Simone Wajnman, professora e pesquisadora da UFMG, as mulheres brasileiras da geração sanduíche têm dificuldade em encontrar outras mulheres na mesma situação devido à idade média jovem da maternidade. Quando essas mulheres têm filhos pequenos, seus pais ainda não estão precisando de cuidados, enquanto elas já têm netos quando seus próprios pais começam a necessitar de cuidados.
Wajnman afirma que a situação das mulheres da geração sanduíche no Brasil é ainda mais complexa do que em outros países, sendo assim chamada de geração “panqueca”. Além das demandas físicas e emocionais do cuidado, há também a questão financeira envolvida, com a necessidade de recursos para medicamentos, alimentação e moradia.
O relatório “Esgotadas”, da ONG Think Olga, mostrou que as mulheres brasileiras se sentem esgotadas, ansiosas e estressadas devido à pressão familiar e financeira. Tavares chegou a cogitar uma separação do marido devido ao cansaço e sobrecarga de responsabilidades. No entanto, ela encontrou seu escape na música e na dança, aproveitando os fins de semana para se divertir com a filha.
Com o envelhecimento da população, a tendência é que o número de mulheres na geração sanduíche aumente. Pessoas com mais de 65 anos já representam 10,9% da população brasileira, e os cuidados com idosos frequentemente recaem sobre as famílias, principalmente sobre mulheres. No entanto, Wajnman ressalta a importância de que o cuidado não seja apenas responsabilidade da família, mas sim de um sistema de cuidados mais abrangente.
Nesse contexto, é fundamental que essas mulheres aprendam a estabelecer limites, buscar apoio em suas redes sociais e saber dizer não. A antropóloga Mirian Goldenberg destaca que, apesar das dificuldades, essas mulheres estão construindo vidas novas e revolucionando a forma como a maturidade é encarada, principalmente para as mulheres.
Enquanto isso, a iniciativa Todas da Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis, buscando promover a conscientização e oferecer suporte a mulheres que enfrentam desafios como o da geração sanduíche.