Cidades brasileiras sofrem com escassez de médicos no serviço público, com quase 1/3 dos municípios contando com menos de um profissional para cada mil habitantes.

Quase 1.800 cidades brasileiras, o que representa cerca de 1 a cada 3 municípios, enfrentam a falta de médicos no serviço público, comprometendo o acesso universal à saúde garantido pela Constituição. Os dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes) revelam que em alguns municípios a taxa é de apenas 0,2 médicos por mil habitantes, muito abaixo da média nacional de 2,6. Um exemplo disso é São Pedro da Aldeia Branca (MA), que possui apenas quatro médicos para cerca de 14.380 pessoas. Essas informações são do Instituto República.org, que coletou os dados do Cnes.

A atenção primária, responsável por resolver 80% das demandas de saúde das pessoas ao longo da vida, é de responsabilidade dos municípios, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, a distribuição de médicos nessas regiões é desigual. Arthur Aguillar, diretor de políticas públicas do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), ressalta a importância da relação próxima entre médicos e habitantes nessa área. Além disso, é necessário o acesso a outros níveis de atendimento, como transplantes, por meio da regionalização.

No entanto, Aguillar afirma que essa coordenação nem sempre ocorre na prática, gerando diferenças significativas no acesso ao sistema de saúde entre cidades grandes e pequenas. Uma decisão recente do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determina que as novas graduações em medicina sejam submetidas às regras do Mais Médicos, a fim de ampliar o número de médicos em regiões com déficit. No entanto, o número de cursos com abertura travada ainda não foi informado pelo Ministério da Educação.

É importante ressaltar que o aumento no número de faculdades de medicina não significa uma distribuição adequada de profissionais capacitados em todo o país, de acordo com César Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB). Além disso, muitas cidades pequenas não possuem estrutura suficiente para o atendimento primário, faltando tratamentos, ferramentas de diagnóstico e outras condições básicas de trabalho nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Para atrair médicos para o interior, é necessário melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida nessas cidades, assim como as remunerações oferecidas. O presidente da AMB destaca que a valorização deve se estender a outros profissionais de saúde, como enfermeiros, que podem assumir práticas avançadas sem prejudicar a qualidade do atendimento. Outro desafio é a cultura de especialização, que afasta os médicos da atenção primária.

A falta de entendimento sobre o compromisso com a saúde pública na formação dos profissionais também é um problema apontado por Zeliete Zambon, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade. Apesar disso, a obrigatoriedade de estágio no Sistema Único de Saúde (SUS), instituída em 2014, tem promovido uma maior compreensão sobre a saúde pública entre os estudantes de medicina.

Programas de residência em cidades com menos médicos, além de incentivos financeiros, como bolsas permanência, podem atrair médicos para o interior. No entanto, Aguillar ressalta que é necessário o apoio dos estados e do governo federal para enfrentar a desigualdade na distribuição de profissionais de saúde. O Mais Médicos é uma das principais apostas para reduzir essa desigualdade.

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