Repórter São Paulo – SP – Brasil

Aquecimento da Amazônia é até 14 vezes maior devido ao desmatamento, aponta estudo inédito

Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e britânicos demonstrou que o desmatamento na Amazônia é responsável por um aumento significativo nas temperaturas da região. De acordo com a pesquisa, publicada na revista científica PNAS, o aquecimento em áreas altamente desmatadas pode ser até 14 vezes maior do que se a floresta ainda estivesse intacta, resultando em temperaturas até 4°C mais elevadas.

Os cientistas utilizaram dados de satélites para estimar a temperatura da superfície terrestre entre os anos de 2001 e 2020, abrangendo um período de intenso desmatamento na Amazônia. Os resultados revelaram que o desmatamento possui dois efeitos contraditórios sobre a temperatura local. Por um lado, a derrubada da floresta modifica o albedo, ou seja, a capacidade de uma superfície refletir ou absorver a luz solar. Por serem mais escuras, as florestas absorvem mais luz, o que tenderia a aquecê-las menos.

No entanto, o estudo revelou que outros fatores, como a perda de evapotranspiração da floresta e a alteração da superfície, compensam o efeito de resfriamento causado pelo aumento do albedo. O resultado líquido desses três fatores é um aquecimento da superfície relacionado à perda florestal.

Além disso, a pesquisa também indicou que o desmatamento não afeta apenas as áreas locais, mas também tem um impacto regional. Quanto maior o desmatamento, maior o aquecimento. Áreas com menos de 10% de perda florestal aqueceram apenas 0,3°C, enquanto áreas com desmatamento entre 10% e 20% registraram um aquecimento de 0,6°C, o dobro das áreas não perturbadas. Quando o desmatamento ocorre em escala regional, atingindo uma área de até 100 km de raio, o aumento de temperatura pode chegar a 4,4°C.

Os pesquisadores utilizaram inteligência artificial para analisar os diferentes tipos de desmatamento e seu impacto na temperatura. Através dessa análise, eles concluíram que tanto o desmatamento local quanto o regional são relevantes para prever como a temperatura da região amazônica irá evoluir. Esses resultados reforçam a evidência de que os dois tipos de desmatamento estão interagindo.

Os efeitos do aumento da temperatura na Amazônia são preocupantes não apenas para o bem-estar humano, mas também para fatores como a chuva e a sobrevivência das colheitas e do gado. A capacidade de adaptação desses organismos ao calor não é ilimitada, o que pode ter consequências significativas para a região.

A crise global do clima contribui para o aquecimento da Amazônia, porém, o desmatamento local e regional desempenha um papel fundamental nesse processo. O estudo pioneiro quantifica as diferentes contribuições para o aumento da temperatura na região, destacando a importância de se combater o desmatamento para mitigar os impactos das mudanças climáticas.

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