No entanto, nos últimos tempos, essa variação tem sido fora do comum e tem gerado preocupação no mercado. Nos últimos meses, a rentabilidade desses títulos disparou rapidamente. Os títulos com vencimento em 10 anos saíram de uma taxa de 4,18% no início de setembro para os atuais 4,78%. Já os de 30 anos foram de 4,29% para 4,95%. Durante o pregão da última sexta-feira, as taxas chegaram a atingir 4,89% e 5,05%, respectivamente, as maiores desde 2007, antes da crise financeira global.
Essa alta nas taxas reflete a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) manterá os juros americanos em níveis elevados por mais tempo, uma vez que a maior economia do mundo tem se mostrado mais resiliente do que o esperado, o que pode levar a um aumento da inflação. Na sexta-feira, o relatório payroll do governo americano indicou que o país criou 336 mil novas vagas de emprego fora do setor agrícola em setembro, o maior aumento desde janeiro. O valor é quase o dobro do esperado pelo mercado (170 mil) e 48% maior do que o registrado em agosto. Além disso, os salários também aumentaram 3,4% no mês passado, o que pode desencadear um aumento inflacionário.
Diante desse cenário, parte do mercado passou a apostar em uma alta nos juros americanos em dezembro, com uma elevação de 0,25 ponto percentual nos Fed funds, que é a taxa básica de juros americana. A maioria, no entanto, ainda prevê que o patamar atual seja mantido até junho do próximo ano, quando os Fed funds podem começar a cair. No entanto, a inflação americana ainda está abaixo da meta de 2% do Fed. Em agosto, ela registrou uma alta de 3,7% nos últimos 12 meses.
Além disso, os juros altos não afetam apenas o retorno dos treasuries, mas também encarecem o custo de vida como um todo. Por exemplo, as hipotecas, que desencadearam a crise financeira de 2008, estão preocupando novamente. A taxa média de juros para financiamentos de 30 anos subiu para 7,53% no final de setembro, o maior nível desde 2000, de acordo com a associação do setor.
No entanto, não é apenas a perspectiva de juros mais altos do Fed que está pressionando os juros americanos. Quando a taxa básica estava próxima de zero, o governo dos EUA aproveitou para emitir mais títulos de dívida. Agora, essas dívidas estão mais caras e o déficit fiscal americano de 123% do PIB não ajuda. “Se o governo parar de emitir bonds e o Fed voltar a comprá-los, a curva de juros se estabilizará”, diz o economista Daniel Miraglia.
No entanto, os EUA correm o risco de uma paralisação nos serviços públicos devido à falta de dinheiro e, se o Fed comprar os títulos do governo, estará injetando mais liquidez na economia, o que pode gerar ainda mais inflação.
Todo esse cenário complexo tem levado a uma aversão ao risco no mercado global. Na semana passada, o índice Ibovespa caiu 2,06%, enquanto o dólar brasileiro subiu 2,68%. Os juros futuros brasileiros também acompanharam o movimento dos juros americanos. A taxa para janeiro de 2025 subiu de 10,58% no início de setembro para 10,95% na sexta-feira, e a taxa para janeiro de 2030 subiu de 10,94% para 11,71% no mesmo período. Isso fez com que o título prefixado do Tesouro brasileiro com vencimento em 2026 subisse de 10,26% para 10,90%, e o título prefixado para 2029 subisse de 10,90% para 11,67%.
A alta dos treasuries também afeta os investimentos no Brasil. Segundo especialistas, o cenário atual favorece investimentos seguros, como o dólar, o ouro e os treasuries, em detrimento de ativos arriscados, como moedas emergentes e ativos de renda variável. Com o aumento do fluxo de investimentos para os Estados Unidos, o real se desvaloriza em relação ao dólar, o que pode impulsionar a inflação doméstica. Diante disso, o Banco Central brasileiro terá pouco espaço para cortar a taxa básica de juros, a Selic, além do previsto.
No entanto, se a carteira de investimentos já estiver diversificada, com uma reserva de emergência adequada e um investimento para aposentadoria garantido, este pode ser um momento propício para explorar a renda fixa americana, segundo especialistas. No entanto, investir no exterior não é para todos e deve ser feito com cautela.
Uma maneira fácil para os brasileiros aproveitarem esse momento único da renda fixa americana é investir em BDRs de ETFs. Os BDRs são recibos negociados na Bolsa de Valores que correspondem a ativos listados no exterior, enquanto os ETFs são fundos listados em Bolsa que replicam a performance de um determinado índice. Atualmente, a Bolsa brasileira conta com 41 BDRs de ETFs de renda fixa, incluindo aqueles que refletem o desempenho dos treasuries. Essa pode ser uma maneira mais fácil e acessível para os investidores brasileiros aproveitarem esse cenário.
Outra opção é investir diretamente nos EUA, abrindo uma conta em uma corretora americana. Isso permitirá que os investidores acessem ETFs e fundos de investimentos dedicados aos treasuries. No entanto, para comprar os títulos diretamente no Tesouro americano, é necessário ter um número de seguro social dos EUA.
Além disso, recentemente surgiu um grande conflito entre Israel e Gaza, o que pode aumentar o preço do petróleo e impulsionar a inflação global. Atualmente, o preço do barril do petróleo está em uma tendência de baixa. No último mês, o preço do barril do Brent caiu de US$ 96 para US$ 84 de