O impacto da guerra russo-ucraniana também repercutiu diretamente na Alemanha, com o aumento do preço dos combustíveis. No setor agrícola, a crise se agravou com a proposta do governo federal alemão de interromper os subsídios ao diesel para o campo.
As mobilizações dos agricultores na Europa têm como principais causas o repúdio aos acordos de livre comércio e a demanda por renda digna, de acordo com a Coordenação Europeia da Via Campesina (CEVC), a principal rede de pequenos e médios produtores agropecuários a nível internacional. Em países como Alemanha, França, Polônia, Romênia e Bélgica, um número cada vez maior de agricultores tem ido às ruas em busca de preços justos e políticas agrícolas que cubram os custos de produção.
A Comissão Europeia alega ter adotado 63 medidas excepcionais a favor de agricultores e pecuaristas entre 2014 e 2023, mas as organizações de pequenos e médios produtores consideram-nas insuficientes. A CEVC exigiu que os governos europeus levem a sério as atuais manifestações e mudem a direção das políticas agrícolas e alimentares europeias, colocando os agricultores no centro das políticas.
Segundo a Via Campesina Europa, entre 2005 e 2020, houve uma redução drástica de 37% do número de explorações agrícolas na União Europeia, especialmente entre as granjas menores. A tendência dos últimos 15 anos é particularmente preocupante, com uma previsão de quase três vezes menos granjas na União Europeia por volta de 2040.
A CEVC também exigiu o cancelamento imediato das negociações do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os países do Mercosul, argumentando que atentam contra os pequenos e médios produtores, tanto europeus como os dos países do Sul. Além disso, apelou para desarmar as tentativas da extrema direita de utilizar as mobilizações atuais para impulsionar sua própria agenda. A Organização exigiu dos responsáveis políticos do continente uma mudança real na política agrícola que coloque os agricultores no centro da formulação de políticas e lhes dê perspectivas para o futuro.