A obsessão masculina pelo Império Romano e o papel das mulheres na busca pela paz: uma reflexão urgente

A obsessão masculina pelo Império Romano tem varrido as redes sociais nos últimos dias, após uma influenciadora sueca ter pedido aos seus seguidores para questionarem os homens sobre o assunto. Os resultados das respostas são tanto aterrorizantes quanto inspiradores, dependendo da perspectiva de cada um. Afinal, por que os homens pensam tanto no Império Romano?

Especialistas que foram consultados sobre o assunto afirmam que essa fixação masculina está relacionada ao ideal de virilidade que Roma sempre despertou naqueles que são nostálgicos. Os homens enxergam nas legiões, nos gladiadores, na conquista e no domínio todos os elementos que compõem essa masculinidade idealizada.

Se para alguns acreditar que o gênero é uma mera construção social soluciona a questão, basta mostrar o acrônimo “SPQR” (Senatus Populusque Romanus, “o Senado e o Povo Romano”) acompanhado de uma águia sobrevoando, e o homem já está pronto para a batalha.

Até mesmo eu, às vezes, me pego pensando no Império Romano. No entanto, prefiro a República do que o Império. Seriam esses sintomas de meia-idade?

Não é difícil acreditar na obsessão masculina pelos romanos e em suas razões. Aliás, em minhas leituras profissionais, encontrei uma frase que me chamou a atenção: “Desde a era romana que não se passavam setenta e cinco anos [de 1945 a 2020] sem que houvesse guerra entre as maiores potências do mundo.”

Essa frase pertence aos autores Robert Trager e Joslyn Barnhardt em seu livro “The Suffragist Peace: How Women Shape the Politics of War” (a paz sufragista: como as mulheres influenciam a política da guerra). E é verdadeira: estamos vivendo uma época mais pacífica do que nunca.

Existem diversas razões para isso, mas uma delas, defendida pelos autores, é o fator feminino. Quando se concede às mulheres o direito de voto, mudanças importantes e mensuráveis ocorrem na política. E não apenas na política externa.

Quando as mulheres começaram a votar, os gastos dos estados aumentaram. No entanto, a diferença estava na natureza desses gastos: elas destinavam mais dinheiro para saúde e educação, enquanto eles priorizavam infraestrutura e defesa.

Essa mesma diferença entre os gêneros também pode ser observada na política internacional. Durante o período que compreende as guerras napoleônicas até os dias atuais, as democracias nas quais apenas os homens podiam votar tinham 30% mais chances de iniciar um conflito com outro Estado em comparação às democracias nas quais as mulheres também tinham direito ao voto.

Portanto, as democracias tornam os estados mais pacíficos, mas não é por influência masculina. Pelo contrário, uma das conclusões mais perturbadoras do livro é que as democracias masculinas não realizaram o sonho pacifista de teóricos como Thomas Paine ou Kant.

No final das contas, foram os homens, principalmente os mais pobres, que marcharam para as guerras arbitrárias dos reis e rainhas. Eles seriam os responsáveis por exigir governos mais diplomáticos.

No entanto, esses teóricos subestimaram o entusiasmo masculino pela carnificina. Esse entusiasmo deixou governantes perplexos ao longo do século 19 e até mesmo às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Sempre que um novo conflito se aproximava, os homens demonstravam euforia.

Por trás dessa euforia, estavam as mães, as mulheres, as filhas. Cuidadoras dos feridos, indigentes, viúvas e órfãs. Não é surpreendente que as sufragistas tenham escolhido a guerra e suas consequências como um dos principais argumentos para conquistar o direito de voto no século 19.

Portanto, não há problema se os homens pensam frequentemente no Império Romano. É até louvável se eles o estudarem, compreendendo sua grandeza e miséria. Afinal, o que os romanos já fizeram por nós além de nos dar aquedutos, leis, irrigação, saneamento, vinho, estradas, ordem pública e muito mais?

Mas foram as mulheres, e não os romanos ou seus admiradores, que introduziram a urgência pela paz na equação da política em massa. E foram elas que lutaram, cansadas de cuidarem da sujeira deixada pelas armas quando o confronto terminava.

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