O canalha se revela no tanquinho de areia: memórias de infância refletem atitudes questionáveis na vida adulta

Na infância, vivemos momentos que ficam eternizados na memória, como flashbacks de um filme antigo. Opiniões formadas na tenra idade podem permanecer intactas ao longo dos anos, como se fossem pintadas a óleo em nossa mente. Um episódio marcante de minha infância foi a divisão do pátio da escola por um alambrado, separando os mais novos dos mais velhos. Em um desses dias de recreio, minha pá de plástico, de cor branca, caiu do meu lado do alambrado. Um colega mais velho, chamado Lucas Amadeu, a pegou e saiu andando, deixando uma marca negativa em minha lembrança.

Três décadas se passaram e, por acaso, reencontrei Lucas Amadeu em um bar. Ao conversarmos, ele me contou sobre sua carreira na engenharia e no mercado financeiro, explicando de forma entusiástica sobre seu trabalho. Ele se gabava de pegar as pás que caíam dos menos favorecidos e enriquecer às custas deles, revelando um caráter duvidoso e mesquinho.

Essa experiência me fez refletir sobre o caráter das pessoas e como ele se manifesta em situações cotidianas. A maldade não se revela apenas em grandes eventos, mas também em ações aparentemente simples, como pegar uma pá no tanquinho de areia. O egoísmo e a falta de empatia podem estar presentes nas atitudes mais sutis do dia a dia, acompanhando-nos por toda a vida.

A história de Lucas Amadeu contrasta com a generosidade de amigos e familiares que nos apoiaram durante os difíceis momentos finais de meu padrasto. Enquanto alguns se aproveitam das dificuldades alheias, outros estendem a mão com solidariedade incondicional, demonstrando a diferença que pequenos gestos de bondade podem fazer na vida de alguém.

Assim, quando nos deparamos com escolhas que refletem nosso caráter, cabe a nós decidir se seremos como Lucas Amadeu, pegando as pás dos mais frágeis, ou se seremos como aqueles que, mesmo diante das adversidades, escolhem a compaixão e a solidariedade. A fábula da pá perdida no tanquinho de areia nos lembra que cada ação, por menor que seja, revela quem verdadeiramente somos.

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