Construída nos anos 1950, a vila era composta por três fileiras de casas, totalizando 60 sobrados. No início de 2019, o primeiro terço da vila foi demolido, o que gerou preocupação por parte dos moradores locais. O local pertencia à Porte Engenharia e Urbanismo, incorporadora responsável por um amplo complexo de edifícios na região.
No entanto, ao tomar conhecimento da demolição, o arquiteto Lucas Chiconi e outros moradores do bairro solicitaram o tombamento da vila ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (Conpresp). Apesar de parecer que as casas já faziam parte do patrimônio urbano da cidade, a preservação era apenas uma exigência temporária feita aos inquilinos.
O Conpresp marcou uma reunião para discutir o caso, mas antes mesmo dela acontecer, 35 das 40 casas restantes foram demolidas. A ordem partiu do herdeiro dos construtores, Bruno Lembi Neto, o que gerou revolta por parte dos moradores e de ativistas pela preservação do patrimônio histórico.
Apesar da destruição em grande parte da vila, o processo de tombamento foi concluído na semana passada, garantindo a preservação das cinco casas restantes. Além da vila João Migliari, outras duas vilas, localizadas no Belém (também na zona leste) e no Pari (região central), também foram tombadas.
Bruno Lembi Neto, por sua vez, avalia medidas para tentar reverter a decisão, alegando prejuízo aos negócios da família. Segundo ele, o tombamento de 46 imóveis cria dificuldades para a estrutura familiar que depende desses imóveis.
A história da preservação da vila João Migliari é marcada pela luta de Ivan Vasconcelos, locatário de uma das casas, que impediu a demolição ao pedir uma indenização na Justiça. No entanto, ele não conseguiu continuar pagando o aluguel do imóvel e acabou tendo prejuízos com seu negócio devido à chegada da pandemia de Covid-19.
Para o arquiteto Lucas Chiconi, a vitória em relação às vilas operárias tem um caráter didático, mostrando a importância da preservação da memória em toda a cidade, inclusive em áreas onde vive a elite paulistana. Ele ressalta que ainda há dificuldades em aproximar esse assunto das pessoas, mesmo em regiões prósperas e centrais como o Tatuapé.
A prefeitura de São Paulo confirmou os tombamentos das vilas e áreas envoltórias, incluindo os sobrados remanescentes da vila João Migliari. O Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura será responsável por apontar as diretrizes para o perímetro no entorno dos imóveis tombados.
Com o processo de tombamento concluído, espera-se que a vila João Migliari possa ser preservada como parte importante da história e cultura da cidade de São Paulo.