Nostalgia com um toque de tecnologia: Celebrando os avanços e as memórias da geração X

Prefiro escrever com caneta ao invés de teclado. Apesar da minha letra, que às vezes nem eu entendo, ainda acredito no poder do papel e do livro físico em comparação com a tela e o digital. Não estou saudosista nem querendo vilanizar os avanços tecnológicos, que ao mesmo tempo são uma bênção e uma maldição. Não glamourizo o passado como sendo melhor, pois isso vive apenas em nossa imaginação e nas memórias que permitimos adulterar. Acreditamos no que queremos que a memória nos conte.

Como parte da geração X, tive o privilégio de testemunhar a evolução dos equipamentos, desde a Olivetti até o copy-paste dos computadores, da Telefunken com botões à TV HDR com controle remoto por voz, do Merthiolate ardido ao que faz cócegas, do Neutrox à Kérastase, da agulha na vitrola ao Spotify, do Maverick ao Tesla, da Barsa ao Google. Celebrei cada avanço e valorizei cada conquista da evolução. Hoje, porém, a sensação é que tudo vem pronto, como se o mundo não pudesse existir sem as tecnologias atuais.

Vivi numa época em que não existia intolerância ao glúten, em que a fotografia precisava ser revelada, em que Crush era um refrigerante de laranja, os Jetsons eram apenas uma alegoria, Monark era a marca de bicicletas, plataforma era algo usado apenas nos sapatos, algoritmo era apenas uma matéria de matemática, K7 era uma fita para gravar músicas e liberdade era uma calça velha azul e desbotada.

Escrevíamos cartões-postais e “postar” significava ir ao correio. Tínhamos programas de televisão como o Jô às 23h30, a TV pirata às terças-feiras e o Chico City às quintas. Usávamos bronzeadores para deixar a pele reluzente, os pais não se intrometiam nas regras das escolas e os aviões tinham cinzeiros. Era a época da Telesp, do telefone fixo, do cadeado no telefone fixo, do telefone com sete dígitos e das fichas DDD.

Tomávamos Yakult não pelos probióticos, mas porque era gostoso. Nos deliciávamos com Farinha Láctea sem nos preocuparmos com o ganho de peso, pois nem pensávamos nisso. Fumávamos cigarros de chocolate e sonhávamos em ser adultos para poder fumar Marlboro ou Hollywood, acreditando que na primeira tragada nos tornaríamos pessoas poderosas e atraentes, capazes de velejar e cavalgar como ninguém.

Não antecipei meu primeiro sutiã, mas nunca o esqueci. O frio batia à nossa porta, mas as Pernambucanas não permitiam sua entrada. Se não comprássemos na Mesbla, íamos correndo para aproveitar a liquidação no Mappin. Na escola, levávamos lanches Mirabel na lancheira, depois de um bom sono e de escovar os dentes. Nos engasgávamos com balas Soft, que eram duras, e tínhamos cáries causadas pelos caramelos que grudavam nos dentes. A única salvação do motorzinho do dentista era sentir o gosto da vitória usando Kolynos e acreditando que quanto mais dura a escova, mais limpos ficaríamos.

Eu sonhava em ser como Sonia Braga e usar meias lurex com sandálias, mas meus pés ainda não eram grandes o suficiente. Achava o Zico lindo, mas ainda não tinha idade para essas coisas. Hoje, sonho com o Louis Garrel, mas já não tenho mais idade para isso.

Mantenho o melhor do passado, que gravo em minha memória como se apertasse o botão rec e play, e aproveito o melhor do presente. Escolho o que posso escolher, mesmo que minha lista seja incoerente entre o antigo e o novo. A vantagem é que posso levar comigo todas as experiências do passado. Nossa história é um caminho irreversível e saber viver o presente é o melhor dos mundos.

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