O fracasso da guerrilha de Che Guevara no Congo e sua influência na luta contra o imperialismo na América Latina

Che Guevara, uma das figuras mais emblemáticas da revolução latino-americana, teve um papel importante no Congo antes de seu icônico envolvimento na Revolução Cubana. Essa passagem pelo país africano não pode ser dissociada do que ocorreu posteriormente na Bolívia, conforme explica o historiador Renan Somogyi Rodrigues da Silva. Para Guevara, o Congo representava uma disputa entre o neocolonialismo e as forças de libertação nacional. Uma vitória do Movimento Nacional Congolês (MNC) poderia incitar outros países a seguir o mesmo caminho anti-imperialista, enquanto uma derrota significaria a supremacia dos Estados Unidos sobre a ex-colônia belga e, consequentemente, sobre a África.

Entretanto, a empreitada no Congo foi marcada por diversos desafios que culminaram no insucesso do projeto. Guevara e seus homens se depararam com a insatisfação e deserção dos congoleses durante os combates, além das dificuldades de adaptação ao cotidiano guerrilheiro. Em uma carta a Fidel Castro, Guevara admitiu sua desilusão diante da situação existente e afirmou que, se não fosse por ele, o sonho da revolução estaria desintegrado.

Apesar dos obstáculos enfrentados no Congo, o projeto de Guevara não foi abandonado. O livro “Guerra de Guerrilhas” se tornou um manual para insurgentes de todo o mundo, ajudando a disseminar a ideia de que as contradições do capitalismo na América Latina eram tão profundas que uma convulsão social era inevitável. A revolução na região deveria se expandir a partir das fronteiras bolivianas para o Brasil, Argentina e Peru, conforme os planos de contrainsurgência dos Estados Unidos.

No entanto, o isolamento político, social e militar dos guerrilheiros na Bolívia prejudicou a concretização desse projeto. O acampamento central foi descoberto e invadido, Guevara perdeu contato com sua coluna e também com Cuba, e as organizações nacionais de esquerda que poderiam apoiar a luta não se engajaram no projeto. O Partido Comunista da Bolívia e o Partido Comunista Marxista-Leninista não tiveram participação direta na empreitada, destacando as divergências entre os pró-soviéticos e os pró-cubanos.

Como resultado, as tropas de Guevara não resistiram à pressão inimiga e o líder revolucionário foi capturado e executado em 9 de outubro de 1967. No entanto, seu nome continuou vivo e inspirando gerações. Além da influência óbvia dentro do campo das esquerdas, a imagem de Guevara foi “canonizada” pelos habitantes da região onde foi aprisionado, sendo eternizado como Santo Ernesto de la Higuera.

Para narrar esses eventos e contextualizá-los na realidade boliviana e nos planos de contrainsurgência dos Estados Unidos, os historiadores Paco Ignacio Taibo II e Luiz Bernardo Pericás utilizam um vasto acervo documental. Além dos diários dos guerrilheiros, eles também se apoiam em cartas, comunicados, discursos governamentais e documentos oficiais de diferentes fontes. Essa contribuição é valiosa para pesquisas sobre Guevara e esse episódio crucial de sua trajetória revolucionária.

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