Essa acusação, francamente, parece desprovida de fundamento. Afinal, se pensarmos bem, os verdadeiros “destruidores da língua” provavelmente começariam por destruir a própria língua em que se expressam, não é mesmo? Similarmente, um invasor bárbaro, ao saquear uma cidade romana, não se deteria para apreciar uma escultura em mármore, mas sim a destruiria sem cerimônia.
No entanto, apesar da falta de base dessa acusação, ela encontra eco em diversos adeptos que parecem se revezar incessantemente – ou talvez seja apenas um indivíduo obsessivo, algum desafeto antigo que insiste em trocar de identidade.
É importante ressaltar que minha professora de português, dona Nilza, não plantou em mim nenhuma semente vândala quando me ensinava análise sintática nos anos 70, lá no colégio estadual Souza Dantas, em Resende (RJ). Pelo contrário, ela era uma mestra dedicada e até um pouco séria.
À medida que cresci e me tornei jornalista e escritor, passei a enxergar a língua como algo muito maior do que um simples conjunto de regras gramaticais. A língua é um organismo vivo, em constante evolução, que escapa às amarras de um livro de gramática.
Assim como um caderno de receitas não abarca todos os sabores e conhecimentos culinários, os estudos linguísticos não podem ser reduzidos a meras regras normativas. A linguagem é dinâmica, pulsante, moldada pela sociedade e pelo próprio povo que a fala.
Por mais que existam gramáticas normativas que estabelecem padrões, essas normas não são imutáveis. A língua segue seu curso, se reinventando a cada dia, submetida às forças da história e da cultura. Enquanto alguns resistem a essa ideia de mudança, reagindo de forma exagerada, aqueles que conseguem relaxar e se divertir com a fluidez da linguagem certamente desfrutam de uma experiência mais enriquecedora.
Portanto, a língua não está gravada em pedra. Ela evolui, se transforma, se renova. E cabe a nós, falantes, aceitar e celebrar essa natureza mutável e fascinante da linguagem, ao invés de nos prender a padrões estáticos e obsoletos.