A Operação Resgate III, realizada ao longo do mês de agosto, foi a maior ação conjunta de combate ao trabalho escravo e tráfico de pessoas já realizada, envolvendo o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública da União, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, além do Ministério do Trabalho e Emprego. Ao todo, 532 trabalhadores foram resgatados em 15 estados brasileiros e no Distrito Federal. No ano passado, foram registrados 2.575 casos de trabalho escravo no país.
Minas Gerais foi o estado com o maior número de ocorrências nesta operação, com 204 pessoas resgatadas. A maioria das vítimas trabalhava em lavouras de café e plantações de alho, batata e cebola. Os estados de Goiás, São Paulo, Piauí e Maranhão também registraram resgates relacionados ao trabalho escravo.
Além das áreas rurais, também foram registrados casos de trabalho escravo em áreas urbanas, como restaurantes, oficinas de costura, construção civil e trabalho doméstico. Na residência da empregadora da idosa resgatada, outras seis mulheres e três homens realizavam trabalho doméstico em condições precárias e irregulares.
Ao todo, 26 crianças e adolescentes foram encontrados trabalhando, sendo que seis deles estavam em condições semelhantes à escravidão. Além disso, 74 pessoas resgatadas também eram vítimas de tráfico humano.
Durante a operação, chamou a atenção o caso de 97 trabalhadores que atuavam na colheita de alho em Rio Paranaíba, Minas Gerais. Entre eles estavam seis adolescentes, incluindo a menina grávida. No local de trabalho, faltavam banheiros, cadeiras e as refeições eram consumidas frias. Os trabalhadores não tinham carteira de trabalho assinada e nem recebiam equipamentos de proteção individual.
No Piauí, em Batalha, 13 trabalhadores estavam em situação análoga à escravidão e chegaram a preparar um tamanduá para comer, devido à falta de alimentação adequada. Eles trabalhavam no corte de palha de carnaúba.
No Rio de Janeiro, a idosa resgatada trabalhava para a mesma família há 50 anos e, nos últimos 16 anos, atuava como doméstica e cuidadora de outra idosa, mãe de sua antiga empregadora. A idosa dormia em um sofá para estar mais perto da anciã e tinha um banheiro reservado para seu uso. Os empregadores foram indiciados pela Polícia Federal.
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, os trabalhadores resgatados já receberam cerca de R$ 3 milhões em verbas rescisórias e foram pagos R$ 2 milhões em danos morais coletivos. O valor total será ainda maior, pois muitos pagamentos estão em processo de negociação com os empregadores ou serão apurados judicialmente.
A operação foi realizada no mês de agosto, marcado pelo Dia Internacional para a Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição, instituído pela Unesco em 23 de agosto. A data lembra a morte do abolicionista Luís Gama, patrono da abolição da escravidão no Brasil.