Sua prima Marga, por sua vez, é iletrada e tem uma compulsão sexual, o que leva a um processo judicial para autorizar sua esterilização, um dos fios condutores da narrativa. As outras mulheres da família são Patri, que sofre de “logorreia”, uma disposição a falar sem controle, e Ángels, a mais “adaptada” e que está escrevendo a história das quatro pelo WhatsApp.
O livro de Morales, traduzido para o português por Elisa Menezes, apresenta uma narrativa complexa e polifônica, misturando monólogos, diálogos e diversos gêneros literários. A denúncia política presente na obra não é óbvia, mas sim perturbadora, abordando a opressão aos comportamentos não conformes ao sistema sociopolítico vigente. A complexidade das formas de lidar com esses abusos é destacada nas vozes narrativas das personagens.
Nati, com suas acusações generalizadas e virulentas, escapa à posição de heroína, enquanto Ángels mostra o poder de quem escolhe obedecer às regras para sobreviver. Já Marga, mesmo sendo a que menos fala diretamente no livro, é uma contestadora do sistema de proteção aos incapacitados, lutando pelo uso livre de seu corpo.
O livro aborda temas como o prazer sexual, a resistência e a luta contra a opressão, em uma trama que equilibra ternura e brutalidade, tristeza e risos. A obra desafia o leitor a refletir sobre a diversidade, a inclusão e a liberdade, de uma forma nada fácil, mas necessária para compreender as complexidades das relações sociais e políticas presentes na Barcelona dos anos 2010.