A visita de Muhammad Ali ao Aristocrata Clube em São Paulo, um marco na luta contra o racismo na cidade.

No dia 16 de setembro de 1971, uma importante figura desembarcou no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, causando grande comoção entre os presentes. Tratava-se do renomado pugilista Cassius Clay, também conhecido como Muhammad Ali, um ativista dos direitos civis dos negros que havia aderido ao islamismo. Sua agenda na capital paulista incluía uma luta “no contest” no ginásio do Ibirapuera, uma visita a uma mesquita na região central e uma parada especial na sede social do Aristocrata, o maior clube frequentado por negros na época, que contava com cerca de 4.000 sócios.

A visita de Ali ao Aristocrata foi marcada por um intuito especial. O pugilista, conhecido por propagar seus ideais de defesa dos direitos dos negros, ficou impressionado ao conhecer a instituição, que competia em importância com os clubes da elite branca de São Paulo. Os diretores do clube explicaram a Ali que o Aristocrata havia sido fundado para se contrapor aos clubes da elite branca, que normalmente discriminavam os negros, em resposta à escalada de racismo que tomava conta dessas instituições na época.

A histórica visitou reafirmou o propósito do clube em mostrar que a aristocracia não estava restrita aos brancos, mas também incluía a aristocracia negra. O impacto do Aristocrata na comunidade negra de São Paulo foi significativo, com suas festas marcando época na cidade e servindo como um espaço de pertencimento e resgate da identidade para muitos.

No entanto, o clube enfrentou períodos difíceis, perdendo seus sócios e enfrentando dificuldades financeiras que levaram ao fechamento de sua sede social no centro da cidade e posterior desapropriação pela prefeitura em 2011. Com o dinheiro da indenização, os poucos sócios remanescentes decidiram construir uma nova sede, no Planalto Paulista, e retomaram suas atividades, buscando manter viva a história e o legado do clube como um bastião contra o racismo estrutural em São Paulo.

A aposentada Martha Braga, que frequenta o clube desde os 17 anos e agora é a presidente da instituição, destaca a importância de manter o Aristocrata como um “quilombo urbano”, lutando para que os jovens se interessem novamente e levem adiante a causa do clube.

Assim, a visita de Muhammad Ali ao Aristocrata em 1971 não apenas marcou a história do clube como também reafirmou a importância de espaços como esse na luta pela igualdade e pelo combate ao racismo, além de destacar a importância do legado do pugilista como ativista dos direitos civis dos negros.

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