Além do deputado, sete policiais federais também estão sendo investigados e foram afastados de suas funções públicas, sob suspeita de integrar o grupo que utilizava ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem autorização judicial. Esta operação é uma continuação das investigações da Operação Última Milha, que foi deflagrada em outubro do ano passado.
“A estrutura paralela na Abin e o uso indevido de ferramentas e serviços da agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, com o objetivo de interferir em investigações, produzir informações para uso político e midiático, assim como para benefício pessoal, foram comprovados através das provas obtidas pelas diligências executadas pela Polícia Federal”, afirmou a PF em nota. Até o momento, Ramagem preferiu não comentar sobre a operação.
Os investigados podem responder por crimes como invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, informáticas ou telemáticas sem a devida autorização ou com objetivos não autorizados em lei. A ferramenta de espionagem utilizada, denominada FirstMile, foi usada de forma irregular entre dezembro de 2018 e 2021, contra políticos, advogados, jornalistas, juízes e membros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ramagem é delegado licenciado da Polícia Federal e atualmente pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro, com o apoio de Jair Bolsonaro. Ele já participou da coordenação de grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de 2016, e integrou a equipe da Operação Lava Jato. Em 2017, foi convidado a integrar a equipe de policiais responsáveis pela investigação e inteligência de polícia judiciária no âmbito da Lava Jato, no Rio de Janeiro.
Ramagem assumiu a chefia da segurança de Bolsonaro em 2018 e, em 2020, chegou a ser nomeado diretor-geral da PF pelo então presidente. No entanto, a decisão foi revertida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a pedido do PDT. Na época, ele foi designado para substituir Maurício Valeixo, que foi pivô da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Moro deixou o governo acusando Bolsonaro de fazer mudanças na PF para proteger seus filhos e aliados de investigações. Como resultado, Ramagem retornou à direção-geral da Abin.
Em 2 de outubro de 2022, o deputado foi eleito pelo Rio de Janeiro, com 59.170 votos pelo Partido Liberal, o mesmo de Bolsonaro. Ele é o escolhido pelo ex-presidente para enfrentar o atual prefeito Eduardo Paes (PSD), que deve ter o apoio do PT para sua reeleição este ano. Com isso, a situação do deputado e diretor-geral da Abin na investigação da Polícia Federal pode impactar diretamente suas aspirações políticas.
Este é um desdobramento importante das investigações da Polícia Federal e a repercussão pública sobre o caso certamente terá impactos políticos consideráveis, podendo alterar profundamente o cenário eleitoral para a prefeitura do Rio de Janeiro. Medidas judiciais futuras também são esperadas e o desenrolar desta situação será de alto interesse para a nação.