O maior problema levantado por esse apoio não está na questão de como designar o conflito entre Israel e Palestina, mas sim na sinalização de uma mudança na política externa brasileira. Além disso, especialistas apontam a inconsistência dessa postura, que oscila entre um realismo prudente em relação à não intromissão em decisões internas de outros países, e a invocação dos direitos humanos para condenar a invasão de Gaza.
Há indícios de que o Palácio do Planalto e os conselheiros diplomáticos estejam buscando posicionar o Brasil em uma ordem internacional “pós-ocidental”, distanciando-se da tradicional preferência pelo mundo multipolar liderado pelos Estados Unidos. Isso talvez explique as atitudes de Lula em relação ao autocrata russo Vladimir Putin e o destaque dado aos países do Brics, incluindo aqueles com governos autoritários.
No entanto, essa mudança de rumo na política externa brasileira representa riscos para o país a curto e longo prazo. No curto prazo, a postura adotada pode gerar críticas pela inconsistência e falta de alinhamento em relação a outros países com regimes autoritários. No longo prazo, o Brasil, cujas instituições políticas seguem o modelo da democracia liberal, pode enfrentar dificuldades para lidar com investidas de governos autoritários no cenário internacional.
Assim, é necessário avaliar cuidadosamente os impactos e as implicações dessa nova orientação na política externa do Brasil. Embora a aposta em uma ordem “pós-ocidental” possa refletir mudanças globais, o país não pode ignorar os riscos e desafios que isso representa. Uma postura sensata e equilibrada na política externa é fundamental para garantir a defesa dos interesses nacionais e a manutenção das relações internacionais do Brasil.