Aumento de 28% nas reclamações de alagamentos em São Paulo em 2023 gera preocupações com a infraestrutura da cidade.

As reclamações por alagamentos na cidade de São Paulo aumentaram 28% no ano passado, entre janeiro e outubro, em comparação ao mesmo período de 2022. Ao mesmo tempo, a prefeitura atrasou projetos previstos no Plano de Metas da cidade, substituindo a promessa de construir 11 piscinões por “230 obras no sistema de drenagem” até o fim deste ano.

Os dados publicados pela Ouvidoria-Geral do Município mostram que houve uma piora nas reclamações antes da sequência de tempestades que atingiu a capital nos últimos três meses. Também houve um aumento de 12% nas queixas sobre varrição e acúmulo de lixo, que entope galerias subterrâneas e agrava as enchentes.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) ressaltou que a situação na cidade ainda é “melhor do que era antes” e que as mudanças no Plano de Metas ocorreram por readequações em projetos que tinham problemas. Segundo ele, já foram investidos mais de R$ 3 bilhões nos últimos dois anos em canalização de córrego, contenção de encostas, drenagem e microdrenagem.

A subprefeitura da Sé concentrou 9 de 36 pontos de alagamento da cidade na noite de quarta-feira (10) e teve o segundo maior número de demandas relacionadas a drenagem no ano passado no portal 156, canal oficial para solicitar serviços urbanos. Ao todo, foram 1.739 solicitações de serviço na Sé em nove meses, o que representa uma média de seis pedidos por dia.

Apenas Itaquera, na zona leste, superou a Sé em número de solicitações, com mais de sete por dia, em média. Ali também está um dos locais que ficaram bloqueados no caos da noite de quarta: a avenida Jacu-Pêssego, onde um alagamento ficou intransitável por mais de quatro horas e só foi liberado durante a madrugada, à 1h50 de quinta, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências).

Já em relação às reclamações por acúmulo de lixo, coleta domiciliar e pedidos de remoção de grandes objetos, a área da subprefeitura da Lapa teve 6.600 solicitações de serviço no SP 156 (cerca de 24 pedidos por dia). A Sé também se destacou nesse quesito, também em segundo lugar, com 5.200 pedidos (ou 19 por dia).

Os 11 piscinões com obras adiadas pela prefeitura estão nas áreas mais problemáticas da cidade, incluindo regiões como Itaquera, Vila Prudente e Aricanduva, na zona leste, e Santo Amaro, na zona sul. Neste sentido, Nunes ressaltou que esses atrasos são compensados por outras intervenções de drenagem que, segundo ele, estão ocorrendo em toda a cidade.

Durante tempestades que deixaram grandes territórios da capital sem energia elétrica em ao menos três ocasiões desde novembro, especialistas questionam a preparação da cidade para a alta frequência de eventos climáticos extremos. A geógrafa Melina Amoni, gerente de Risco Climático e Adaptação na WayCarbon, afirma que há um problema de adequação da infraestrutura ao novo comportamento de tempestades, ventanias e outros fenômenos.

O professor Pedro Roberto Jacobi, do Instituto de Energia e Ambiente da USP, enfatiza que o atraso ou a falta de grandes obras, como os piscinões, deveria ser compensado por manutenção e limpeza periódica das galerias que recolhem a água da chuva, o que parece não ter ocorrido, considerando imagens que mostram acúmulo de lixo nos alagamentos da última quarta-feira.

A prefeitura afirmou que seis novos reservatórios de água estão sendo construídos na cidade e que a Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras) já concluiu 211 obras no sistema de drenagem e para contenção de riscos na cidade, com outras 36 em andamento. Também conta com 800 equipes que atuam “de forma ininterrupta para mitigar os impactos das fortes chuvas com serviços de limpeza, desobstrução de vias e remoção de galhos e árvores”.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo