Câmara de São Paulo planeja criar CPI para investigar ONGs atuantes na Cracolândia, incluindo trabalho do padre Julio Lancellotti.

Após o fim do recesso parlamentar, a Câmara Municipal de São Paulo entrará com uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar organizações não governamentais (ONGs) que atuam na região da Cracolândia. Nome que era usado para descrever uma área no centro da capital paulista ocupada por usuários e dependentes de drogas, mas que agora está dispersa pelas ruas da região central de São Paulo.

O requerimento para a criação da CPI “com a finalidade de investigar as Organizações Não Governamentais que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a região da Cracolândia” já obteve as assinaturas necessárias e foi protocolado na Câmara em 6 de dezembro passado. No entanto, isso não significa que a comissão será imediatamente instalada: há uma fila de proposições de outras CPIs na Câmara e o requerimento ainda precisaria ser aprovado em plenário.

O vereador Rubinho Nunes, um dos cofundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), é o autor da proposta e pretende focar a atuação do padre Julio Lancellotti, que desenvolve há muitos anos um trabalho de cuidado com pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. O movimento A Craco Resiste também será alvo da CPI. Segundo o vereador, o padre Julio Lancellotti e “muitos outros lucram politicamente com o caos instaurado na Cracolândia”.

Entretanto, o líder do PT na Câmara, vereador Senival Moura, contestou a criação da CPI, afirmando ser uma tentativa de cercear vozes críticas ao invés de buscar transparência. Representando a oposição, ele expressou indignação com o foco da investigação no padre Julio Lancellotti, que é conhecido por seu trabalho social e humanitário.

A vereadora do PT Luna Zarattini informou ter protocolado uma denúncia contra o vereador Rubinho Nunes na Corregedoria da Câmara, enquanto o padre Julio Lancellotti ressaltou que sua atividade não é vinculada a organizações da sociedade civil ou ONGs com convênios com o Poder Público Municipal. A Craco Resiste também esclareceu que não é uma ONG, mas sim um projeto de militância para resistir contra a opressão.

Em resposta, o movimento A Craco Resiste criticou os ataques contra eles e afirmou que os verdadeiros que tentam lucrar com a miséria são os homens brancos cheios de frases de efeito que tentam usar a Cracolândia como vitrine para seus projetos pessoais. No entanto, garantiram que não será o último ataque desonesto contra eles.

A instauração da CPI das ONGs na região da Cracolândia promete gerar polêmica e debates acalorados sobre o papel das organizações, o trabalho social e a atuação política na cidade de São Paulo. A questão de como é importante investigar e fiscalizar a atuação das ONGs e sua relação com o Poder Público será discutida amplamente nos próximos meses.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo