A decisão da Suprema Corte acontece em meio a um contexto de desgaste da união nacional em torno da gestão de Netanyahu, propiciada inicialmente pela guerra contra o Hamas. O retorno do projeto à pauta tem o potencial de empurrar o país de volta a um cenário de crise política. Além disso, a guerra em curso também tem gerado insatisfação crescente com o premiê, especialmente em relação à maneira como ele gerenciou a situação dos reféns.
A pesquisadora Karina Calandrin, que analisa o governo Netanyahu em um pós-doutorado na USP (Universidade de São Paulo), destaca que a decisão da Suprema Corte não é fortuita, e acontece em um momento de desgaste do governo e de Netanyahu, que é alvo de uma série de acusações de corrupção na Justiça.
O momento da decisão da Suprema Corte é atribuído ao desgaste de Netanyahu e à polarização da sociedade israelense, que tem sido agravada pelo confronto com o poder Judiciário. Apesar disso, o premiê ainda mantém uma base de eleitores fiéis, e a guerra em si também é um fator de divisão na população. O Exército israelense confirmou o início da retirada de suas tropas da Faixa de Gaza, sinalizando o início de uma nova etapa em sua guerra contra o Hamas.
A Suprema Corte derrubou uma parte da reforma judicial que pretendia remover uma ferramenta da corte para anular decisões do governo e dos ministros que fossem consideradas “irrazoáveis”. Os críticos dessa mudança defendem que a extinção dessa figura jurídica dá margem a excessos do Legislativo, o que preocupa parte da sociedade civil israelense, dada a natureza ultranacionalista e religiosa da coalizão no poder. A decisão da Suprema Corte, portanto, tem implicações não apenas no sistema judiciário, mas também na política e na sociedade de Israel.