Conferência cívica sobre enchente em Piraporinha revela estratégias inovadoras para lidar com desastres urbanos e resiliência comunitária.

Um estudo científico publicado na revista Global Environmental Change revelou que a participação e mobilização dos cidadãos são fundamentais para aumentar a resiliência a riscos de catástrofes urbanas. A pesquisa, desenvolvida ao longo de três anos por 17 cientistas brasileiros e estrangeiros, concluiu que soluções transformadoras de dados urbanos devem envolver não apenas o desenvolvimento de novas tecnologias digitais, mas também a coprodução de entendimentos, práticas sociais e arranjos de governança. O estudo destaca a necessidade de combinar ferramentas de análise de dados com métodos participativos, visando alcançar transformações justas e sustentáveis.

De acordo com estimativas, cerca de 1,81 bilhão de pessoas, o que representa 23% da população mundial, estão diretamente expostas a riscos de inundações, sendo que 89% dessas pessoas vivem em países de baixa e média renda. No Brasil, quatro em cada dez municípios são considerados vulneráveis a desastres relacionados a inundações ou deslizamentos. Para lidar com essa realidade, os pesquisadores desenvolveram diversas iniciativas, como a criação de um mapa digital de áreas vulneráveis a inundações nas cidades de São Paulo e Rio Branco (AC), feito por alunos de escolas públicas. Também foi criado um histórico de enchentes em um bairro pobre da capital paulista, com base no relato dos próprios moradores. Além disso, foram implantados novos canais de comunicação com a Defesa Civil, visando melhorar o sistema de alertas para a comunidade.

O estudo também destaca a importância da produção e uso de dados para enfrentar os desafios causados pelas mudanças climáticas e pelo aumento da população vulnerável em todo o mundo. Eventos extremos, como inundações e deslizamentos, já estão ocorrendo com mais frequência e intensidade devido à crise climática. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, esses eventos estão se tornando cada vez mais comuns. Até mesmo no Brasil, cerca de 3,93 milhões de pessoas vivem em áreas de risco espalhadas pelo país. No entanto, esse problema não é exclusivo do Brasil. Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 89% das pessoas diretamente expostas a riscos de inundações vivem em países de baixa e média renda.

Diante desse cenário, o projeto “Dados à Prova d’Água” foi desenvolvido em parceria entre universidades britânicas, alemãs e brasileiras, além do Cemaden e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A pesquisa resultou na criação de um aplicativo gratuito que permite a coleta de dados em locais estratégicos por meio de ciência cidadã. Esses dados são transmitidos em tempo real para uma plataforma digital, que pode ser acessada por comunidades locais. Essa plataforma foi integrada ao programa Cemaden Educação, que trabalha com escolas e comunidades para realizar ações de prevenção de desastres. Além disso, foi criado um Guia de Aprendizagem para engajar estudantes e voluntários na produção de dados e conhecimento sobre desastres causados pelo excesso de água ou falta de drenagem urbana.

Ao longo da pesquisa, os pesquisadores utilizaram inovações em dados dialógicos, baseados na linha educacional de Paulo Freire, que busca a construção de conhecimento em rede. Por meio dessas inovações, foram desenvolvidas iniciativas que envolvem análise situacional, dados geradores, compreensão crítica da realidade, situações-limite e inéditos viáveis. Essas intervenções metodológicas permitiram a visibilidade das experiências dos moradores por meio de dados, incentivando a participação da comunidade e o compartilhamento de histórias e experiências.

Os resultados desse estudo são fundamentais para enfrentar os desafios das catástrofes urbanas e, ao mesmo tempo, combater a desigualdade na construção de políticas públicas. É essencial envolver as pessoas e os territórios na tomada de decisões, fornecendo-lhes dados e informações para que possam agir de forma mais consciente e eficiente. Espera-se que essa metodologia seja ampliada e replicada em outras regiões e países, contribuindo para uma abordagem mais sustentável e justa na redução dos riscos de desastres causados pelas mudanças climáticas.

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