A psicóloga Samantha Mucci explicou que, quando estamos vivenciando guerras e pandemias, também estamos vivenciando perdas simbólicas e concretas de forma coletiva. Apesar de não conhecermos as pessoas que estão morrendo, nos conectamos com suas histórias e sentimos suas dores e perdas. As imagens das guerras transmitidas diariamente nos remetem a vivências de insegurança, sofrimento, ansiedade e instabilidade presentes em nossa história. É impossível não nos afetarmos coletivamente. Mucci destacou a imagem de uma criança olhando para os escombros e corpos em sua frente com um olhar assustado e cheio de lágrimas, que a marcou muito.
Essa imagem fez com que a professora chorasse recentemente, não somente pela humanidade, mas também pelas guerras que já vivemos, pela sua criança interior, pelas suas perdas e pelos seus lutos já vivenciados. A psicóloga clínica Keyla Cooper também ressaltou que estamos enfrentando inúmeras perdas no nosso dia a dia, seja pelas informações sobre a guerra no Oriente Médio, pelas mudanças climáticas, pela miséria e pela fome. Esses problemas afetam a forma como projetamos nosso futuro e abalam profundamente a previsibilidade da vida.
As especialistas enfatizaram que o luto não é apenas um processo emocional, mas também uma reação psicológica, emocional, cognitiva, social e espiritual diante de uma perda significativa, que não se limita apenas às pessoas. É importante que a pessoa encontre espaços para se expressar e encontrar empatia, buscando comunicar sua própria dor e encontrar pessoas ou grupos que a escutem, para que se sintam acolhidas.
A capacidade de sentir a dor do outro ou de vivenciar o luto do outro está relacionada à nossa empatia. Quanto maior for nosso nível de empatia, mais intensamente experimentaremos o luto coletivo. A psicóloga Aline Oliveira destacou a importância de respeitar os momentos de silêncio interno que podem ocorrer durante o luto, além de procurar lugares preparados para falar sobre o assunto, seja através de grupos de apoio, terapia individual ou com pessoas próximas de confiança.
É necessário identificar fatores de sofrimento, como o consumo excessivo de notícias difíceis de lidar, e refletir sobre como essas notícias são veiculadas pela mídia. Cada pessoa deve cuidar de si mesma, buscando um equilíbrio entre se informar e não se expor excessivamente às notícias repetitivas. Sintomas físicos como taquicardia, sudorese e problemas digestivos podem indicar a necessidade de procurar ajuda, assim como dificuldade de concentração, apatia, alterações no apetite e no sono.
O processo de luto precisa ser vivenciado e ressignificado pela pessoa enlutada, pela família e por todos que sentem a perda de alguém ou de algo significativo. Chorar e se manifestar são igualmente importantes nesse processo, pois é através do choro e da expressão dos sentimentos que podemos pensar sobre o que estamos sentindo. Os sentimentos envolvidos são íntimos e não costumam ser retratados pelas redes sociais, preocupadas em propagar apenas felicidades. É preciso dar espaço, tempo e permissão para que esses sentimentos sejam reconhecidos e vividos.