Lenira Carvalho, trabalhadora doméstica e militante pelos direitos da categoria, nasceu em 1932 no município de Porto Calvo, em Alagoas. Sua história está diretamente ligada à trajetória do trabalho doméstico e é fundamental para compreender a história da escravidão no Brasil.
Filha de uma mulher negra que trabalhou a vida inteira como doméstica na casa-grande de um engenho, Lenira foi marcada desde cedo pela tristeza da mãe. Ela também precisou trabalhar como doméstica, mas encontrou na educação e na militância um caminho para lutar pelos direitos das trabalhadoras domésticas.
Foi através do convite de uma cozinheira para estudar à noite em um colégio de freiras salesianas que Lenira teve a oportunidade de ampliar seu universo social e se encher de coragem. Durante seus estudos, ela ingressou no coletivo religioso e político Juventude Operária Católica, onde se engajou nas lutas sociais.
No contexto do golpe militar de 1964, Lenira foi presa e considerada comunista por sua participação em reuniões e na organização de manifestações das trabalhadoras domésticas. Ao sair da prisão, ela voltou para o trabalho doméstico, mas já não aceitava mais as condições de exploração e decidiu fundar a Associação de Trabalhadoras Domésticas do Recife em 1979.
A criação dessas associações foi fundamental para a nacionalização das lutas das trabalhadoras domésticas e para a conquista de direitos e reconhecimento. Até então, a categoria doméstica não fazia parte da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não reconhecia as domésticas como pertencentes à classe trabalhadora.
Lenira, então, estabeleceu parcerias com coletivos feministas e passou a integrar o movimento feminista, ampliando as pautas das trabalhadoras domésticas para questões como corpo, saúde e sexualidade. Sua luta era baseada em sua profunda consciência de classe, no debate sobre afetividade e direitos, e na não dissociação da fé da política.
A história de Lenira Carvalho é contada em sua autobiografia “A Luta que me Fez Crescer”, publicada em 2000. Ela se junta a outras mulheres como Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo”, que tiveram suas histórias apagadas e desqualificadas por muito tempo, mas que hoje são reconhecidas pela literatura e amplamente divulgadas.
Lenira faleceu em agosto de 2021, aos 88 anos, deixando um legado de luta e resistência. Sua história nos lembra da importância de valorizar e lutar pelos direitos das trabalhadoras domésticas, que por muito tempo foram invisibilizadas e oprimidas. Através da história de Lenira, podemos compreender a relevância do trabalho doméstico e da luta por reconhecimento e dignidade.