Violência no campo na Amazônia Legal cai 25,7% no primeiro semestre de 2023, mas aumenta 9,1% em todo o país

No primeiro semestre de 2023, houve uma redução da violência no campo na Amazônia Legal. De acordo com dados divulgados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram registrados 329 conflitos por terra na região, o que representa uma queda de 25,7% em comparação com o mesmo período de 2022. A Amazônia Legal engloba nove estados: Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

No entanto, em todo o país, o quadro é oposto, com um aumento de 9,1% nos conflitos por terra. Foram registradas 791 ocorrências nos primeiros seis meses de 2023, em comparação com 725 no mesmo período do ano anterior. Vale ressaltar que esse é o segundo número mais alto da década, ficando atrás apenas de 2020, que teve 876 casos.

Os dados foram coletados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc) e revelam que os povos indígenas foram os mais afetados pela violência no campo, representando 38,2% dos casos. Em seguida, estão os trabalhadores rurais sem terra (19,2%), posseiros (14,1%) e quilombolas (12,2%).

Além dos conflitos por terra, a CPT também documenta outras situações, como casos de trabalho escravo e conflitos relacionados à água. Ao todo, foram registrados 973 conflitos no campo durante o período, um aumento de 8,1% em relação a 2022, envolvendo cerca de 527 mil pessoas.

No que diz respeito ao trabalho escravo, houve um aumento tanto no número de registros (20%) quanto no número de pessoas resgatadas (43,9%). Foram resgatados um total de 1.408 trabalhadores, o maior número desde 2014. O agronegócio foi a atividade com o maior número de vítimas, com 532 socorridas no cultivo da cana-de-açúcar, 331 em lavouras permanentes e 46 na pecuária. Houve também resgates em atividades de mineração (104), desmatamento (63) e produção de carvão vegetal (51).

A redução dos conflitos na Amazônia Legal nos primeiros meses do governo do presidente Lula (PT) ocorre simultaneamente à queda no desmatamento e ao aumento das ações de fiscalização de crimes ambientais. Os alertas de desmate na Amazônia caíram 33,6% de janeiro a junho, atingindo a taxa mais baixa desde 2020.

No mesmo período, o Ibama aumentou em 166% as multas por crimes contra a flora em comparação com a média dos últimos quatro anos. Além disso, os embargos cresceram 111% e os termos de destruição de equipamentos usados em crimes ambientais aumentaram 260%. Esses dados foram divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática.

Apesar dessas melhorias, Ronilson Costa, um dos coordenadores nacionais da CPT, destaca que o número de conflitos na Amazônia ainda é alto. Ele ressalta que, embora o governo atual tenha começado a intensificar a fiscalização e a atenção para a região, muitas comunidades ribeirinhas e indígenas ainda sofrem pressão e violência.

Costa menciona os mundurukus, no Pará, como um exemplo de comunidade indígena que está enfrentando ameaças e violência, principalmente devido à presença de garimpeiros ilegais em suas terras. Além disso, ele menciona ações constantes contra ribeirinhos no Amazonas, com invasões por parte de empresas pesqueiras.

O coordenador da CPT ressalta que, apesar da queda nos conflitos na região amazônica, o número de pessoas afetadas aumentou, atingindo o maior índice dos últimos dez anos. Ele também destaca o aumento dos conflitos por terra em outras regiões do país, como Mato Grosso do Sul e Goiás, que apresentaram números significativamente mais altos do que antes.

De acordo com Costa, o aumento desses conflitos está relacionado ao crescimento da economia brasileira, que está se tornando cada vez mais voltada para a exploração minerária e a expansão do agronegócio. Essas atividades muitas vezes se expandem para territórios já ocupados, como áreas de agricultura familiar e terras indígenas e quilombolas.

Além disso, a lentidão nos processos judiciais que tratam de áreas em disputa também contribui para o agravamento dos conflitos. Famílias que aguardam há mais de 20 anos por uma solução se tornam cada vez mais vulneráveis, vivendo em situação de instabilidade e sujeitas a pressões por parte dos fazendeiros para abandonarem suas terras.

O coordenador da CPT também destaca o desmonte dos mecanismos de mediação de conflitos durante o governo anterior. Segundo ele, houve muitas invasões de terras indígenas e quilombolas por parte de fazendeiros e grileiros nesse período.

Outro relatório da CPT mostra um aumento de 29,8% nos confrontos por terra na Amazônia entre 2019 e 2022, em comparação com os quatro anos anteriores. Costa afirma que, apesar das expectativas iniciais de abertura de diálogo e mediação de conflitos no governo de Lula, há uma grande demanda por parte das comunidades. Ele destaca que o governo federal alega falta de recursos para implementar políticas relacionadas à questão.

No entanto, em agosto, Lula assinou decretos para retomar o Programa Nacional de Reforma Agrária, com medidas como assentamento de famílias, regularização de famílias assentadas e investimento em crédito para agricultores. Essas ações visam enfrentar os desafios enfrentados pelas comunidades do campo e promover a justiça agrária no país.

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