Polícia Federal adia operação de fraude na intervenção no Rio para não coincidir com o Dia da Independência

A Polícia Federal decidiu adiar as diligências da operação que está investigando fraudes na intervenção do Rio de Janeiro em 2018, a fim de evitar que coincidisse com as comemorações do Dia da Independência. A operação investiga o General Walter Braga Netto e oficiais da reserva do Exército por supostamente estarem envolvidos em desvios em contratos para compra de coletes assinados pelo Gabinete de Intervenção Federal, que era comandado pelo ex-ministro Jair Bolsonaro.

As diligências estavam previstas para ocorrer na mesma semana das celebrações militares do 7 de Setembro. No entanto, os investigadores consideraram que adiar a operação seria o ideal, para não coincidir com a data significativa para as Forças Armadas e evitar acusações de perseguição aos militares.

Durante a investigação, o sigilo telemático de Braga Netto foi quebrado e a PF encontrou pagamentos de uma empresa investigada para um coronel da reserva que foi subordinado a ele por mais de dois anos.

De acordo com a Folha, havia um mal-estar entre a cúpula das Forças Armadas e a PF, que começou desde o período de transição do governo. Generais de alta patente reclamavam que eventos de celebração do Exército foram marcados por operações da Polícia Federal contra militares. Esses militares alegavam que a PF escolhia intencionalmente os dias para minar notícias positivas sobre os militares.

No entanto, após conversas entre o ministro Alexandre de Moraes, do STF, o diretor da PF, Andrei Rodrigues, e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, a relação entre a corporação e as Forças Armadas melhorou. O ministro Múcio e o comandante do Exército, general Tomás Paiva, compareceram a um evento com a presença da PF, demonstrando essa aproximação.

A declaração do ministro da Justiça, Flávio Dino, de que a PF e as Forças Armadas são “instituições coirmãs a serviço do Brasil”, também contribuiu para essa reaproximação. Essa declaração foi dada em meio à crise de desconfiança dos militares com a PF, que se acentuou com o avanço das investigações contra os militares.

A operação Perfídia, que investiga fraudes na compra de coletes balísticos da intervenção federal no Rio de Janeiro, realizou 16 mandados de busca e apreensão em endereços vinculados aos suspeitos em diferentes estados. A investigação encontrou indícios de fraude na compra dos coletes, que foi realizada com sobrepreço. A empresa contratada, CTU Security LLC, sediada em Miami, tinha o venezuelano Antonio Intriago como proprietário, e ele foi preso nos Estados Unidos por suspeita de participação no homicídio do presidente do Haiti, Jovenel Moïse.

Braga Netto afirmou que os contratos do Gabinete de Intervenção Federal seguiram todos os trâmites legais e que a suspensão do contrato foi realizada devido a supostas irregularidades nos documentos fornecidos pela empresa. Ele também ressaltou que os coletes não foram adquiridos nem entregues, e o valor total mais a variação cambial foram devolvidos aos cofres do Tesouro Nacional.

Essa investigação e os adiamentos das diligências são mais um capítulo na relação complexa entre a Polícia Federal e as Forças Armadas, que envolve questões de autonomia e disputas de poder.

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