Apesar das preocupações dos médicos em relação aos riscos à saúde do uso do cigarro eletrônico, como inflamação pulmonar e queda na imunidade, a indústria do tabaco e ativistas pela regulamentação do dispositivo afirmam que ele pode ser uma alternativa menos prejudicial ao cigarro convencional. A pesquisa revela que o público mais interessado no cigarro eletrônico é composto pelos jovens. Na faixa etária de 18 a 24 anos, 17% já experimentaram o dispositivo, mas não o utilizam mais; 6% o utilizam ocasionalmente; e 0,5% da população utiliza o cigarro eletrônico diariamente.
Luana Viviani, de 22 anos, é um exemplo desse cenário. Ela trabalha na área de tecnologia e cita a moda e a facilidade como motivos que a atraíram para o uso do cigarro eletrônico. Luana afirma que o dispositivo é mais aceito em sua casa, já que sua mãe não permite que ela fume cigarros convencionais no ambiente, mas não se importa com o uso do cigarro eletrônico, pois ele não deixa cheiro forte na residência. Ela também afirma que reduziu a quantidade de cigarros que fuma por dia e trocou o filtro vermelho pelo branco, mas admite que perde o controle do número de tragadas quando utiliza o cigarro eletrônico.
Outra participante do estudo, Priscila Farias, de 30 anos, também relata que começou a utilizar o cigarro eletrônico por curiosidade e notou a comodidade proporcionada pelo dispositivo. Preocupada em fumar cigarros convencionais e utilizar o cigarro eletrônico ao mesmo tempo, ela decidiu abandonar o cigarro tradicional em dezembro do ano passado. Priscila menciona como benefício a ausência do cheiro forte deixado pelo cigarro em suas roupas. Atualmente, ela admite que utiliza o cigarro eletrônico o tempo todo, substituindo-o pelo cigarro convencional.
Embora seja proibido no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o cigarro eletrônico é facilmente obtido pelos consumidores. A maioria das pessoas entrevistadas na pesquisa afirma adquirir o dispositivo em lojas físicas (43,1%), seguido das compras online (29,9%). A coordenadora do Covitel, Luciana Sardinha, lamenta esse cenário, pois considera que pode representar um retrocesso no combate ao tabagismo. Ela acredita que o cigarro eletrônico é alvo de interesse da indústria do tabaco, que busca atrair os jovens por meio dos diferentes sabores disponíveis no mercado.
Em relação à regulamentação do cigarro eletrônico, a BAT (antiga Souza Cruz), a maior indústria de tabaco do país, argumenta que ela é necessária para garantir a segurança da população. Segundo uma pesquisa realizada pelo Ipec em 2022, mais de dois milhões de brasileiros são usuários de cigarro eletrônico. A BAT acredita que com a autorização será possível reduzir a exposição ao mercado ilegal, impedir o acesso de menores de idade e fornecer informações corretas à sociedade sobre o produto. No entanto, a Anvisa decidiu manter a proibição dos dispositivos em 2022, e a audiência pública sobre o assunto no Senado não chegou a um consenso.
Médicos alertam para os riscos à saúde do uso do cigarro eletrônico, enfatizando que ele pode criar uma nova geração de consumidores. Além disso, há preocupações sobre os efeitos adversos nas vias respiratórias e no coração. O pneumologista Paulo César Côrrea afirma que o cigarro eletrônico apresenta os mesmos riscos à saúde dos cigarros tradicionais, além de riscos específicos, como a lesão pulmonar associada ao seu uso. Ele ressalta que as consequências do uso prolongado desse dispositivo ainda são desconhecidas, já que ele foi desenvolvido há poucos anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou diretrizes para proibir o uso do cigarro eletrônico em escolas, visando proteger os jovens das emissões tóxicas e da propaganda desses produtos.
Em resumo, o uso de cigarro eletrônico no Brasil tem sido motivado principalmente pela curiosidade, moda, gostar do dispositivo e influência de amigos ou familiares. A indústria do tabaco argumenta que seu uso está ligado à redução de danos e busca pela regulamentação. No entanto, médicos alertam para os riscos à saúde, como inflamação pulmonar e queda na imunidade. A pesquisa revela que o público mais interessado no cigarro eletrônico é composto por jovens, e a facilidade de acesso ao produto é preocupante. A regulamentação do cigarro eletrônico continua sendo um tema em discussão, com opiniões divergentes de autoridades e especialistas sobre o assunto. A OMS recomenda a proibição do uso do dispositivo em escolas para proteger os jovens dos riscos à saúde e da propaganda dos produtos.