Fumaça recobre o Brasil em níveis alarmantes e se espalha por regiões antes inimagináveis, alerta especialista do INPE.

A pluma de fumaça que encobre o Brasil tem causado preocupação em diversas regiões do país, atingindo lugares antes improváveis, como Rio Grande do Sul, São Paulo e sul da Bahia. De acordo com a especialista em química da atmosfera do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Karla Longo, medições dos satélites indicam que o país chegou a ficar, em média, 60% coberto por fumaça nos meses de agosto e setembro, chegando a atingir até 80% em alguns dias desta semana.

A seca intensa tem contribuído para espalhar e prolongar a nuvem poluente, que é comum nas regiões Norte e Centro-Oeste desde o início do monitoramento por satélite do Inpe em 1998. O diferencial deste ano é a mudança no comportamento da fumaça, atingindo agora mais regiões do Brasil.

O calor intenso registrado neste inverno favoreceu a propagação da fumaça pelas regiões Sudeste e Sul, e em menor escala, por Goiás, Minas Gerais e sul da Bahia. Longo alerta que, com estações mais quentes e secas, é possível que o território brasileiro fique cada vez mais encoberto, devido ao avanço das mudanças climáticas.

Recentemente, a nuvem de fumaça se conectou com os corredores de umidade da Amazônia, causando instabilidades na atmosfera do sul do Brasil ao noroeste do Amazonas. Essas instabilidades resultaram em chuvas isoladas que devem persistir nos próximos dias, além de estar relacionadas ao fenômeno da chuva preta, resultado da fuligem transportada pela fumaça e misturada com água.

A especialista Karla Longo ressalta que o aumento da fumaça este ano está ligado ao sistema Alta Subtropical do Atlântico Sul (Asas), área de alta pressão que inibe a formação de nuvens e eleva as temperaturas. Frentes frias desviam a pluma para o Atlântico, porém ela retorna ao continente devido à circulação atmosférica, permanecendo por mais tempo no ar e afetando a qualidade do ar com partículas nocivas à saúde.

Estudos apontam que ao menos 40% dos brasileiros tiveram a saúde afetada pelas queimadas em Belo Horizonte e São Paulo, devido não só à fumaça visível, mas também aos gases poluentes invisíveis presentes na atmosfera. A situação deve melhorar no Sudeste até o fim do mês, mas na Amazônia a estiagem está prevista para continuar até outubro.

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