Emocionados: a rebeldia contra a cultura do desapego nas relações digitais

Em um cenário marcado pelo individualismo e pela superficialidade das relações digitais, expressar sentimentos de forma intensa e rápida nas redes sociais tem se tornado algo incompreendido pela sociedade, que rotula os indivíduos que agem dessa maneira como “emocionados”. No entanto, especialistas afirmam que esse comportamento representa um contraponto à cultura do desapego e da falta de conexão que predominam no mundo virtual.

Segundo a psicóloga Lígia Baruch, o termo “emocionado” se tornou uma gíria contemporânea, carregando uma conotação pejorativa devido ao contexto digital, onde as interações são muitas vezes superficiais e narcisistas. Nesse sentido, Rafael Yamamoto, um publicitário de 32 anos, destaca que a demonstração de sentimentos é muitas vezes reprimida nas relações, em um esforço de se adequar aos padrões sociais e evitar parecer vulnerável.

A neuropsicóloga Priscila Ximenes ressalta que a cultura atual incentiva os homens a ocultarem suas emoções, refletindo um estereótipo que associa sensibilidade à fraqueza. Nesse contexto, a demonstração de emoções reais é vista como um ato de rebeldia contra a frieza digital e a era pós-pandemia, representando um desejo de retornar às conexões humanas genuínas.

Marina Marletti, por sua vez, enfatiza a importância da autenticidade e comunicação nas relações, destacando que a expressão de sentimentos não deve ser vista como algo negativo, mas sim como uma busca por conexão e compreensão mútua. A pesquisadora Lígia Baruch destaca que, apesar de existirem padrões prescritivos sobre como homens e mulheres devem se comportar no início de um relacionamento, cada pessoa lida com a vulnerabilidade de forma única.

Em um mundo digital onde a exposição e a vulnerabilidade são cada vez mais presentes, é importante não criar barreiras para a expressão de sentimentos genuínos e para o estabelecimento de relações autênticas. A conexão real entre as pessoas vai além das interações virtuais, exigindo que os encontros nas redes sociais sejam transpostos para o mundo real, onde as emoções podem ser expressas de forma mais autêntica e sem pressões.

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