Alto uso de hormônios sem prescrição por mulheres trans e travestis: estudo inédito revela fatores e consequências prejudiciais.

Um estudo recente publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia, periódico da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), revelou dados alarmantes sobre o uso de hormônios sem prescrição por mulheres trans e travestis. A pesquisa acompanhou 1.317 participantes de cinco capitais brasileiras e constatou que 72% delas faziam uso de hormônios não prescritos, destacando a falta de acesso a medicamentos e assistência especializada como fatores determinantes para essa prática.

A idade média de início do uso de hormônios relacionados à transição foi de 18,5 anos, e a média de idade das participantes que utilizavam hormônios sem prescrição foi de 30,7 anos. Além disso, o estudo mostrou que a maioria das entrevistadas relatou discriminação (86,4%), episódios de violência (88,9%) e violência sexual (54%) ao longo da vida. A autopercepção da saúde mental foi considerada regular por 38,8% das participantes e ruim/muito ruim por 12,6%.

A pesquisa é parte do projeto TransOdara, financiado pelo Ministério da Saúde e pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), e teve a participação de pesquisadores de instituições renomadas, como Instituto Butantan e Fiocruz Amazônia. Em entrevistas em profundidade, foi observado que o uso de hormônios é uma prática comum entre mulheres trans e travestis como forma de alcançar as mudanças corporais desejadas e reduzir o sofrimento causado pela disforia de gênero.

No entanto, o uso de hormônios sem acompanhamento médico pode trazer riscos à saúde a longo prazo, como complicações cardiovasculares. A falta de serviços especializados e a discriminação enfrentada por essa população são apontadas como motivos para a automedicação. O Ministério da Saúde informou que existem 27 unidades de saúde habilitadas para atender a população trans, oferecendo acompanhamento multiprofissional e a dispensação de hormônios.

Diante desse cenário, a pesquisa destaca a importância de políticas públicas e serviços de saúde que atendam às necessidades específicas das mulheres trans e travestis, visando garantir um acesso adequado à saúde e reduzir as vulnerabilidades enfrentadas por essa parcela da população.

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