50 anos do golpe civil-militar no Chile: memória, democracia e busca pela verdade e justiça.

No início dos anos 1980, os pais de um garoto nascido em Machalí, no Chile, chamavam a atenção dos filhos para uma sepultura anônima no Cemitério Santa Inés, em Viña del Mar. Era um mausoléu sem identificação que abrigava os restos mortais de um ex-presidente eleito pelo povo: Salvador Allende. Aquela falta de reconhecimento era considerada um desrespeito à figura do líder político.

Allende foi eleito democraticamente em 1970 e deposto por um golpe civil-militar em 1973. Ele acreditava na possibilidade de transformações sociais por meios democráticos e resistiu ao ataque dos golpistas no palácio presidencial de La Moneda, onde acabou morrendo.

O golpe no Chile contou com o apoio de governos estrangeiros, incluindo o dos Estados Unidos e do Brasil, que na época também estava sob um regime militar. O general Augusto Pinochet assumiu o poder após o golpe e governou o país com uma ditadura violenta por 17 anos, caracterizada por abusos, desaparecimentos e mortes.

Somente em 1990, os restos mortais de Allende foram transferidos para Santiago. Essa mudança representou uma tentativa de reposicionar a figura de Allende como um líder político democrático que buscava transformações sociais por meio de meios institucionais.

Este ano marca o 50º aniversário do golpe civil-militar chileno e o governo chileno está promovendo uma extensa programação para lembrar e refletir sobre esse período histórico. Além de exposições, marchas e debates, o governo promete assumir os esforços de busca pelos desaparecidos, implementar medidas de reparação e garantir o acesso dos familiares às informações obtidas durante o processo de buscas.

Como parte dessa iniciativa, quatro ex-presidentes chilenos já assinaram um documento comprometendo-se a defender a democracia, respeitar a Constituição e promover os direitos humanos. Também é destacada a importância de cuidar da memória histórica como base para o futuro democrático.

O governo chileno convidou líderes políticos de vários países, incluindo o Brasil, para participar das comemorações. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, o secretário executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares, e o assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade, Nilmário Miranda, representarão o Brasil.

O embaixador chileno no Brasil, Sebastian Depolo Cabrera, destaca a importância de se conhecer a história do Chile e os fatos ocorridos há 50 anos. Ele ressalta a necessidade de defender a democracia, compreender a influência de potências estrangeiras no golpe e reconhecer que nenhum país pode produzir bem-estar para sua população sem acordos democráticos.

Para o embaixador, a lembrança desses eventos fecha um ciclo. Agora, ele pode levar suas filhas ao local onde Allende foi finalmente enterrado e contar a elas sobre o que aconteceu e quem era Allende. É uma oportunidade de transmitir a história que seu pai não pôde contar a ele.

As comemorações do 50º aniversário do golpe no Chile são uma oportunidade para refletir sobre a importância da democracia, conhecer a história e promover a memória histórica como base para um futuro democrático e respeitoso com a vida e a dignidade humana.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo