Ex-seringueiro morre após percorrer horas em barco em busca de atendimento em região isolada pela seca extrema na Amazônia.

No interior da Amazônia ocidental, um drama humano foi vivenciado por Antônio Ferreira da Costa, um ex-seringueiro e ex-coletor de castanha, durante a seca extrema de 2024. Em um lugar que perdeu a conexão com o mundo, o lago Carapanatuba secou, deixando Antônio e seus familiares ilhados, em um isolamento sem precedentes nas comunidades ribeirinhas às margens.

A situação se agravou quando Antônio adoeceu gravemente e precisou de assistência médica. O caminho até a cidade de Humaitá, que antes era percorrido de forma tranquila, tornou-se uma jornada longa e penosa devido ao sumiço do lago e à baixa do rio Madeira.

A reportagem da Folha esteve presente na casa de Antônio no dia 8 de setembro, testemunhando seu estado debilitado e a falta de diagnóstico para suas dores. No dia seguinte, seus familiares o carregaram em redes até a margem mais próxima, onde ele foi transportado em uma embarcação até a cidade em busca de atendimento médico.

Infelizmente, a luta de Antônio chegou ao fim quando faleceu no caminho de volta para sua comunidade, aos 75 anos de idade. O Governo do Amazonas declarou que não houve acionamento para a transferência do paciente, e a prefeitura de Humaitá não respondeu aos questionamentos sobre o caso.

O desejo de Antônio de ser enterrado em sua comunidade foi atendido, e ele foi sepultado em um dos cemitérios em terra firme no lago Carapanatuba. Sua história é mais uma triste consequência das mudanças climáticas na Amazônia, que continuam a afetar a vida dos ribeirinhos e a necessidade de adaptação a um novo cenário de secas extremas.

Enquanto as comunidades aguardam o retorno dos níveis do rio Madeira, o legado de Antônio permanece vivo nas memórias daqueles que compartilharam sua jornada de trabalho e sobrevivência na Amazônia.

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