A inclusão da DF na lista de agravos de notificação compulsória é fruto de anos de reivindicação dos movimentos sociais negros e organizações da sociedade civil que atuam na área da saúde, lutando contra o racismo institucional e pela visibilidade das pessoas com DF. No Brasil, a negligência em relação à DF tem sido evidente, desde o seu primeiro relato científico em 1910 até a implementação da primeira política pública em 2005. Mesmo com o avanço do diagnóstico por meio da triagem neonatal, ainda há casos de diagnóstico tardio de DF, o que, somado às fragilidades nos registros de dados, contribui para a invisibilidade dessas pessoas no sistema de saúde e reflete o racismo estrutural presente na sociedade.
A notificação compulsória da Doença Falciforme é fundamental por diversos motivos. Primeiramente, a coleta sistemática de dados permitirá uma melhor compreensão da prevalência e da gravidade da doença em diferentes regiões do país, contribuindo para identificar áreas de maior necessidade e direcionar recursos de forma mais eficaz. Além disso, essa medida pode ajudar a combater o estigma associado à DF, promovendo a conscientização sobre a condição e estimulando o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
Recentemente, o Boletim Çarê-IEPS n. 5 revelou que as internações por DF cresceram 47,8% no Brasil entre 2012 e 2023, destacando a desproporção de afetados na população negra. A DF foi identificada como a segunda causa de óbitos entre as doenças de notificação compulsória de interesse nacional, ressaltando a importância de ações efetivas para lidar com essa realidade. Portanto, a notificação compulsória da DF é um passo essencial para a construção de um sistema de saúde mais justo e inclusivo no Brasil, garantindo um futuro mais saudável para todos os brasileiros, especialmente aqueles que vivem com a DF.