Repórter São Paulo – SP – Brasil

Estudo aponta encarceramento como principal fator de risco para tuberculose na América Latina, revela pesquisa da Fiocruz publicada no The Lancet.

O encarceramento é apontado como o principal fator de risco para a incidência de tuberculose na América Latina, de acordo com um estudo recentemente publicado na renomada revista científica britânica The Lancet. A pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com instituições de diversos países da região, revelou que o encarceramento está relacionado a um percentual significativo de casos de tuberculose na região, superando outros fatores de risco como HIV, desnutrição, diabetes, subnutrição, tabagismo e alcoolismo.

Os dados analisados abrangem seis países latino-americanos, incluindo Brasil, Argentina, Colômbia, Peru, El Salvador e México, os quais concentram a maior parte da população carcerária e dos casos de tuberculose na região. Em 2019, cerca de 27,2% dos novos casos de tuberculose nesses países estavam relacionados ao encarceramento, o que representa um total de 34.393 casos adicionais de tuberculose devido à privação de liberdade.

No Brasil, especificamente, o estudo revelou que 36,9% dos novos casos de tuberculose estão associados ao encarceramento, uma porcentagem significativamente alta em comparação com outros fatores de risco. O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da UFMS, destaca a importância de abordagens inovadoras para reduzir a carga da tuberculose na população carcerária, visando atingir as metas estabelecidas no programa Brasil Saudável.

A superlotação, a ventilação precária, a desnutrição e o acesso limitado a cuidados de saúde dentro das prisões contribuem para o aumento do risco de transmissão e progressão da tuberculose entre os detentos. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de intervenções no sistema carcerário, incluindo a redução das taxas de entrada na prisão e do tempo de encarceramento, como medidas eficazes para diminuir a incidência da doença na população em geral.

Além disso, defendem a implementação de estratégias para reduzir o encarceramento em massa e a melhoria das condições de saúde nas prisões, envolvendo agências internacionais de saúde, ministérios da justiça e programas nacionais de tuberculose. Julio Croda ressalta a importância da triagem em massa e do acesso aos testes diagnósticos para detectar precocemente a tuberculose entre os detentos, apontando a necessidade de ações mais abrangentes e eficazes para enfrentar essa crise sanitária.

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