A presença das crianças trouxe agitação à casa de Benedita, que é rodeada por casas de parentes e quase é engolida pela majestosa Floresta Amazônica ao fundo. Melgaço, situada no sul do Marajó, arquipélago com 2.150 ilhas que se estende da foz do rio Amazonas até a baía do Guajará, possui um cenário de rios caudalosos e florestas de igapó, que ficam alagadas durante boa parte do ano.
Morando na região rural, onde 80% dos 28 mil habitantes locais residem, Maria Benedita desfruta da vida simples, mas aponta que a qualidade dos serviços públicos poderia ser melhor. Como Melgaço não possui conexão terrestre com outros municípios, os barcos são essenciais para o transporte, especialmente para as crianças irem à escola. A falta de pontualidade dos barqueiros e suspensão frequente das aulas nas escolas locais são apontados como motivos para a evasão escolar e as baixas taxas de frequência.
Além disso, a ribeirinha relata problemas na qualidade da merenda escolar, que muitas vezes deixa as crianças com fome. Esse cenário de desafios na educação e na saúde reflete no baixo IDH do município, que é o menor do país, indicando a necessidade de melhorias significativas nos serviços públicos oferecidos em Melgaço.
A disparidade entre a realidade de Melgaço e a de São Caetano do Sul, município com o melhor IDH do Brasil, levanta questões sobre as desigualdades regionais e a distribuição de recursos públicos. Enquanto São Caetano investe em infraestrutura e serviços de qualidade, Melgaço enfrenta desafios estruturais que impactam diretamente na qualidade de vida de seus moradores. É necessário repensar o pacto federativo e propor medidas que reduzam as disparidades sociais e econômicas entre os municípios brasileiros, garantindo um desenvolvimento mais equitativo e sustentável para todos.